sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O HOMEM QUE PERDEU O CU - CAPÍTULO V


uma amiga insistiu tanto que eu publicasse um capítulo da novela que estou escrevendo que acabei concordando. Aí vai então:

CAPITULO V – UM COLÓQUIO COM O CU NUM BOTECO SUJO ANTES DE DESCEREM AO PUTEIRO.

Bom, não vou entrar em detalhes, mas era um botecozinho desses bem chinfrin, bem nojentinho mesmo. O Cu arredou sua cadeira para mais junto de FraNZ, olhou bem dentro de seus olhos e disse:
_Você é Hilda, o autor de O LIVRO DOS DESEJOS ANAIS, não é mesmo?” FraNZ não disse nada, apenas que sorriu desconsertadamente como um dos sinos desafinados da Igreja dos Remédios.
_Não adianta me esconder nada, rapaz, eu sinto essas coisas exteriores. Disse o Cu. Franz TRIS-TO-NHA-MEN-TE DOIS PONTOS “Se não convenci um Cu de minha representação, não convencerei nem mesmo a própria academia.
_Você não precisa convencer ninguém. E eu não sou um Cu. Eu sou o Cu. E ao contrário do que se imagina, todo Cu tem um nome. O meu é Barros. Barros de Alencar.e Silva. Muito prazer!”
_ FraNZ, prazer!!
FraNZ ficara mesmo meio sem jeito ao cumprimentá-lo. A moça com uma verruga enorme no nariz e que trazia a cerveja, fingiu cinicamente que aquilo não estava acontecendo, assim como também fingiu sua vida inteira que aquela verruga enorme e feia em seu nariz, nunca existira. Moscas azuis sobrevoavam curiosamente o Cu. Mas ele parecia não se importar. Era ficha limpa.

AGORA DÊEM-ME SÓ UM SEGUNDINHO PARA PENSAR NA FRASE SEGUINTE RETICENCIAS

Bom, é isso. Olhando ao redor, O Cu que se chamava Barros de Alencar. e Silva, falou com nostalgia:
_ Víamos sempre aqui, o velhinho e eu, discutir literatura clássica. Ahh, um saco, todo aquele papo helênico. Você me libertou e agora devo tudo a você, FraNZ, querrido.
PORRA, O CU COMO OS OUTROS TAMBÉM ARRANHAVA O “N” E O “Z” E AINDA POR CIMA HAVIA AQUELE ERRE DOBRADO E FRANZ OBVIAMENTE COMEÇARIA A DETESTAR AQUILO.
Franz desfilou aquele gestozinho clássico com a mão direita porque FraNZ era destro, tipo TRAVESSÃO Ora quê isso, esquece _Sério mesmo, o velhinho era um saco, e digo-lhe mais, vivi todo esse tempo na bosta daquela academia servindo aquele velho escroto no meio de toda aquela gente escrota, e portanto chata; uma vida toda desperdiçada, vivendo na mais absoluta escuridão pueril e enferma de ideias e palavras reinantes naquela merda de academia.
_ Bom _ FraNZ ia dizer _ Fico contente em ajudar OU então mas eu não fiz nada, mas Barros de Alencar. e Silva o interrompeu dizendo:
_Não, você não entende querrido, sua alma é livre e você me libertou, e agora me sinto culpado por não ter dinheiro para pagar nem esta cerveja, é que o velho era misarento e não me deixou um único centavo RETICENCIAS TRISTES

E MAIS, SE O CU TIVESSE MÃOZINHAS TERIA ENFIADO ELAS EM SEUS BOLSOS IMAGINÁRIOS SIMULANDO DUREZA E TAMBÉM TERIA FEITO AQUELA CARA DE MUXOXO, MAS FRANZ ENTENDEU PERFEITAMENTE PORQUE FRANZ JÁ PASSARA POR ISSO, ANTES DE SE TORNAR UM PROFESSORZINHO DE ENSINO MÉDIO COM UMA ÚNICA CADEIRA E MAL PAGO (...) IDEM A MAIS
_ Esquenta não! Deixa que eu pago. FraNZ disse.
_ FIIIIIUUUUU O Cu assobiou animadinho pedindo outra: _FraNZ meu querrido, quero ouvir mais de você... e não me venha com teorias, Á MERDA COM TEORIAS.
O Cu parecia mesmo excitado.
_ Não tenho muito o que falar de mim, apenas que escrevo para poder suportar o fardo da vida. _ Os olhos do Cu brilharam. Um ventilador de teto ordinário de marca paraguaia girava sobre suas cabeças. Algumas poucas pessoas incomodadas pelo odor que se espalhava pelo botecozinho, retiravam-se dali em silenciosos protestos. FraNZ olhou pela ultima vez a verruga enorme e feia no nariz da garçonete e jurou que nunca mais olharia aquilo outra vez enquanto ele permanecesse naquele lugar espeluquento. Aí o Cu desandou a falar ES-PAS-MO-DI-CA-MENTE: _ FraNZ, meu querrido, anote bem isso: “A VIDA É UMA TELA VANGOGHIANA MAL FEITA E MAL COMPREENDIDA”, você tem brilho, talento, meu rapaz, não precisa mais se esconder atrás dessa máscara de Carlitos, seja você mesmo, deixe o seu Cu falar por si, FraNZ, vivemos a época do esvaziamento criativo, da falta da compreensão anal, veja o Joyce, por exemplo, ele ainda é o que é hoje porque deixou seu cu falar, deixe o seu cu falar FraNZ, temos muito o que dizer e o que ensinar, é preciso dosar as coisas, amar e perverter, você está anotando isso, querrido, não está? o amor sem a perversão não existe, e você está no caminho certo, os escritores de hoje precisam abrir seus cus e viver a plenitude do amor e da perversão, o amor não está somente na penetração, não é apenas quando se mete, mas quando se tira também, a palavra é um grande esporão do amor, deixe que ela repouse dentro de você depois de gozar, porque a pressa? a pressa não existe para os amantes, não é mesmo? ela não nos permite chegar a nenhum lugar, FraNZ meu querrido, você me libertou e eu não posso nem pagar-lhe uma cerveja, mas veja bem, estamos bebendo nessa espeluncazinha minúscula e fedida, mas podemos ainda beber em outro lugar mais amplo, que tal, só que não tenho dinheiro, o velhinho era misarento, não me deixou nada, eu catei seus bolsos, você viu, mas ele não tinha mais nada, ele se foi para sempre devendo as pessoas e o mundo, tentei ajudá-lo direcionando-o a uma escrita mais livre, mas ele era teimoso, nunca me ouvia, é um problema dos escritores de hoje, não ouvem seus próprios cus, nos subestimam, para eles somos apenas uma pequena peça do mecanismo fisiológico que faz a máquina humana funcionar, mas nós pensamos e jogamos também de forma diversificada, escrever não é só uma questão racional, é ter a carta certa nas mãos certas, é saber girar a roleta, é dar um novo corpo ao mundo, lembra-se de Dostô, ah, o nosso velho Dostô, este sim sabia jogar e ouvir o próprio cu, quanto mais se perde mais se ganha, GRIFO MEU, NÃO, DE FraNZ, NÃO, DO CU, OKEI OKEY, MEU MESMO AH, QUE DIFERENÇA FAZ. AH, FraNZ, vamos aos puteiros, o velhinho não era apreciador desses lugares, tratava-se de uma alma ranzinza e bastante recatada, e acredite, ia à Igreja aos domingos e me fazia ouvir My Way, um beato, agora imagine FraNZ, todos esses longos e torturantes anos levando uma vida chata, a escrita é livre, imploda mesmo as fibras arquitetônicas do dizer velho, as hierarquias morais, o homem é uma pequena amostra da infelicidade, e daí, foda-se, se um dia você acabar sozinho e cego, não acredite na escuridão, as palavras seguem a voz de dentro.

E ELE ENCERROU DIZENDO
a vida não é uma novelinha barata, FraNZ querrido, a vida é um romance puro, este século não vai nos cheirar, esqueça a academia, vamos aos puteiros!

E CAÍMOS FORA DALI

Nenhum comentário:

Postar um comentário