quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

TETÉIA MIGNON


Os olhos injetados de Carlos Mário são dois coágulos de pus e sangue filtrando as fezes da vida na cidade.
Tetéia Mignon vem subindo devagar a pequena Lapa. Carlos Mário chama aquilo ali de pequena Lapa. Já Tetéia Mignon chama aquilo lá de Reto. Tetéia Mignon sim, já esteve na Lapa. Ele não. Nunca saiu do Reto. Ganho de merda. Fodido ele é. Ela sonha agora em ir para Itália antes de completar quarenta e um e secar para sempre os silicones espalhados pelo corpo todo, ou então que Deus o livre, pegar a porra de uma AIDS e aí se foder de vez. Ela ainda sonha. Carlos Mário não. Não sonha mais com porra nenhuma. Tornou-se um vegetal duro e frio. Fincou raiz na cidade morta.
Vem subindo mesmo sem muita pressa Tetéia Mignon. Gazela-transgênica-abatida. Só quando toma bomba, é que seu peso e altura dobram. O dobro de altura de Carlos Mário. Ambos tem a mesma idade. Conheceram-se ali mesmo naquele Reto sujo ou naquele pedacinho de Lapa, como queiram. Uma noite dessas, a boca espocada de porrada. Foi no Hotel Central, bem de esquina. O braçal Aquino descobriu que ela tinha um pau e não a porra de um buraco no meio das pernas e esmurrou-lhe a boca até quebrar-lhe todos os dentes. Não foi por pena ou solidariedade humana que naquele dia Carlos Mário pagou-lhe uma cerveja e deu-lhe cigarros (Sim, e um lenço para estancar a sangria do nariz e da boca, já ia até me esquecendo.)É que havia cansado das putas. E aquele olho vazado de Tetéia Mignon - coberto por um tapa olho escuro - o assustava e o seduzia.
"Foi um mergulhão que me roubou este olho." Disse ela uma vez. Mas Parazinha desmente. Diz que foi briga de facas entre veados na Currutela das Trompas. Parazinha nem com nojo se compara a Tetéia Mignon. Veado podre e feio. Anda sumida do Reto desde a operação que fez.
"Silicone vagabundo e mal aplicado quando desce, aí tem que amputar o caralho do pinto. Bem feito! Língua grande!" Disse uma vez Tetéia Mignon sem remorsos.
"Posso sentar e tomar essa cerveja contigo?"
"Tranquilo."
Senta-se cruzando as pernas. Abana-se com o leque.
"Caralho de lugar! Bando de veados lisos! Vou dá o fora dessa merda. Pegá o beco. Capá o gato. Aqui ó, não me crio não. Nem fodendo!!
Acende um cigarro. Traga e tosse. Trinta e duas vezes.
"Peguei essa tosse escrota aqui nessa merda de cidade. Se eu tiver que morrer de alguma doença escrota, maninho, vai ser em outro lugar, nã nessa miséria." Carlos Mário mira seus olhos na direção de suas coxas, subindo só um pouquinho pra bunda, agora o corpo todo. Linda mesmo, Tetéia Mignon. Quando toma bomba, fica ainda mais gostosa essa boneca; jura que põe qualquer putinha ali do baixo no chinelo. Mas ele hoje está pouco a fim. Ela ainda arrisca:
"Vamos dá uma, bebê? Quando transamos, eu vou ao ceu."
"Hoje não."
"Por que não?"
"Sem tesão."
"Sem tesão?"
"É que soquei umas duas antes de sair de casa."
"Chupo bem chupado esse caralho, quero ver se ele não levanta."
"Não, hoje não."
Os olhos de Carlos Mário miram agora o vazio das ruas. Dali não dá pra ver por causa dos prédios hemorrágicos e dos enormes caixotes empilhados da HAMBURG & SUD, mas o rio subindo daquele jeito chegará ao mesmo nível da angústia humana.
Tetéia se aporrinha de vez:
"Então me dá outro cigarro aí, vai caralho!!

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

FICHA DENÚNCIA


DESCRIÇÃO DOS FATOS

data/hora: 29/10/2003, por volta das 11:00h às 18:00h

ATOS ILÍCITOS: CONSTRANGIMENTO ILEGAL, ABUSO DE AUTORIDADE: Que o DENUNCIANTE MARCOS, no dia citado estava com um grupo de escritores divulgando a publicação da Revista Literária "SIRROSE" para o dia 14/11/03 às 09:00h na praça do Congresso; Que o denunciante estava com o grupo no COLÉGIO BRASILEIRO PEDRO SILVESTRE ás 10:30h da manhã; Que o denunciante junto com o grupo pediu autorização do PORTEIRO da ESCOLA para entrar, o que lhes foi concedido; Que o denunciante se dirigiu à Diretoria da ESCOLA para pedir autorização, porém, o DIRETOR não estava presente; Que foram então à Coordenação, porém, o ORIENTADOR EDUCACIONAL também não estava presente; Que diante disso foram entrando nas salas e pedindo autorização dos próprios PROFESSORES para divulgarem a REVISTA nas salas e os mesmos autorizaram a entrada sem nenhum tipo de impedimento; Que o denunciante e seu grupo conversaram com os ESTUDANTES, pedindo que os mesmos anotassem no caderno a atividade de divulgação, pedindo tambem AJUDA DE R$0,10 a 0,25 para aluguel de um carro de som que seria usado no ato do dia 14/11; Que depois de terem entrado em mais ou menos nove turmas o DIRETOR começou a afirmar que era ele quem mandava na ESCOLA e que o grupo teria que sair imediatamente; Que o grupo se recusou a sair pois se sentiram em uma situação vexatória e quiseram esclarecer que eram ESCRITORES de u a revista de LITERATURA MARGINAL e que o objetivo do grupo efra divulgar tal revista; Que o DIRETOR não quis tomar conhecimento das explicações do grupo e prendeu os mesmo na ESCOLA, mandando que o PORTEIRO TRANCASSE O PORTÃO e acionou a POLÍCIA MILITAR para prender o grupo; Que a POLÍCIA MILITAR chegou no local e levou o grupo ao 1o DISTRITO POLICIAL em duas viaturas; Que o chegarem na DELEGACIA foram alguns PROFESSORES além do DIRETOR e do ORIENTADOR EDUCACIONAL fazer ocorrência contra o grupo de ESCRITORES; Que foram recebidos e foi pedida a identificação, sendo recolhidos os pertences pessoais de cada um; Que foram apreendidos 100 exemplares da REVISTA "SIRROSE"; Que em seguida mandaram que todos tirassem a ROUPA e foram então colocados na CELA; Que ao chegarem na CELA, pediram para ligar para um ADVOGADO, o que lhes foi NEGADO; Que pediram ÁGUA e também lhes foi negado; Que sofreram RACISMO, tendo em vista m dos componentes do grupo ser NEGRO; Que uma MULHER de estatura baixa e cabelo comprido e crespo que trabalha na DELEGACIA falou: "EU VOU TE BOTAR NA CADEIA SEU PRETO!!"; Que uma outra MULHER branca de cabelo louro e alta falou que "A REVISTA NÃO ERA LITERÁRIA, QUE ERA PORNOGRÁFICA E QUE FAZIA APOLOGIA AO ÁLCOOL E AO SEXO, QUE ERA UMA VERGONHA", além de vários outros adjetivos que o denunciante, (emocionado) não recorda inteiramente; Que em seguida trancaram a cela e os denunciantes ficaram no interior sem ter informações sobre o porquê de sua prisão; Que mais tarde foram chamados para depor um por um do grupo, num total de 05 pessoas; Que foi feito um TCO contra o grupo pela acusação de "PERTURBAÇÃO DE TRABALHO, INCITAÇÃO DE TUMULTO E ESCRITA OBSCENA"; Que depois do depoimento foram colocados novamente na CELA; Que chegou uma INVESTIGADORA de estatura baixa, forte, de cabelos castanhos, dizendo que o grupo iria ficar até de manhã na CELA, mas que se eles tivessem DINHEIRO pra dar um GUARANÁ para os policiais eles iriam liberar naquela hora; Que os denunciantes disseram que não possuiam DINHEIRO e por isso permaneceram na CELA até as 18:00h quando disseram que tinham um ADVOGADO chamado "BARRONCAS" e que queriam entrar em contato com o mesmo, sendo que após isso foram imediatamente liberados com os pertences devolvidos, porém as revistas continuaram apreendidas na DELEGACIA, para posteriormente serem QUEIMADAS...

PROVIDENCIAS PRELIMINARES

Que os DENUNCIANTES deixaram a DELEGACIA com fome e abatidos mas cantando, STRABERRIES FIELDS FOREVER...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

SUICIDAS


FOI HÁ MUITO TEM ATRÁS, quando ainda morava em Porto Velho. Cara Dura, Ezequiel, Fininho, Zé Doido e eu: minha geração perdida dos anos oitenta. Vivíamos sem esperanças, duros e cheios de tédio. Muito álcool, bolinhas, gotanergan, tonopan e optalidon. Havia também um tal de Benflogyn que a malandragem chamava de geléia; um tipo de remédio pra esquizofrênico e mulheres grávidas. Vinha em forma de drágeas ou xarope que misturado com cachaça dava mais lombra e deixava a gente doidão e moles como geleias. Depois vieram baratos mais pesados. O fato é que buscávamos a morte o tempo todo. Masa foi Zé Doido que naquela noite girou a roleta. Uma única bala no tambor de seis buracos como no filme do Franco Atirador que um dia vimos os cinco, chapadões, no Cine Lacerda que ficava no centrão sujo de Porto Velho. "Tem que ter colhão pra arriscar!" Zé Doido nos disse. Olhamos todos sérios pro trabuco sobre a mesa. Uma.45. Quando a mente enfraquece, a morte seduz, e a morte não costuma errar de porta, ainda mais quando se vive dando muita sopa. Naquela noite, cachaça Cocal e Gotanergan na veia que era pra dar mais coragem.
Feito o sorteio, Cara Dura o primeiro. Em seguida Ezequiel, eu o terceiro, Zé Doido o quarto e por último o Fininho. Alguém ali ia se foder. Zé Doido botou a bala no tambor, girou a roleta e deu a arma ao Cara Dura. As mãos dele tremiam pra caralho. Mas ele disparou, na cara dura. Fez um clic-seco-surdo nos ouvidos dele. De todos nós. "Uma porra! Tô fora!" Fininho arregou. Tinha só dezenove, muito novo, mas o excesso de picos na veia e cachaça Tatuzinho deixaram ele com aquela cara de velho. "Cagão do caralho!" Berrou Zé Doido. Foi expulso da roda e do grupo. O tambor girou novamente. Foia vez de Ezequiel e novamente aquele clic-seco-surdo e um sorrisão nervoso naquela sua cara de finado. "Toma! Tua vez!" Peguei o trabuco mas não tive forças de pressionar o gatilho até o fim. Era pesado e ele chegava até o meio e voltava. Uma, duas, três vezes tentei, na quarta Zé Doido tomou-o de minha mão- Dá aqui, sua bicha! - e tremendo apontou para sua cabeça. Disparou. Nada. Só o silencio e aquele cheiro escroto de morte. Girou o tambor sorrindo e devolveu a arma para mim. Era novembro. Não sei se chovia, mas isso não fazia diferença aquela altura. As estações dentro de nós eram sempre as mesmas: cheia e vazante se alternando. Peguei a arma,decidido. Na hora não se pensa em nada, só em uma vontade imensa de mandar tudo pra casa do caralho. Assim o fiz apertando bem os meus olhos e acionando o gatilho. Dessa vez até o fim. Senti a bala atravessando minha cabeça. Tudo explodindo; tudo acabando. Mas para minha decepção ou alívio, o projétil teimava em permanecer ali dentro. Eu continuava vivo, como os demais. Zé Doido pegou da arma outra vez e apontando para o alto, disparou. Aquela bala que seria para o Fininho fez um rombo medonho no telhado de zinco. Ficamos olhando um tempão para o tamanho do buraco que a bala fizera no telhado. Não sei quanto aos outros, mas aquele rombo no telhado de zinco me ajudou a ver o tamanho do buraco que eu havia cavado em meu peito; o quanto não tínhamos mesmo consciencia da morte. Foi quando decidi parar de vez com aquela porralouquice toda.
Hoje, sentado aqui e escrevendo essas linhas no silencio do meu quarto, penso de verdade o quanto a vida é irônica. Depois daquela noite suicida fracassada, cada um de nós tomou um rumo diferente na vida: Ezequiel virou pastor de Igreja. Zé Doido e Cara Dura entraram pro tráfico. Fininho morreu atropelado na rodovia três-um-nove (um mês depois daquele episódio da roleta). Quanto a mim, vim para Manaus e aqui descobri que a pena fazia algum sentido e decidi seguir vivendo. Girando agora uma outra roleta.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

A VISITA


A VISITA

(...) Vivia de algum modo aqueles duros e doces dias sem leme algum; singrando os rios das dúvidas. Ceifando campos de espinhos. Olhando-me no espelho e não vendo mais o meu reflexo. Havia me tornado o doce vinho das incertezas baudelerianas descendo-me goela abaixo mesmo nas horas mais fustigantes e miseráveis daqueles dias. Eu havia me tornado o próprio puteiro. Odisseu preso no olho do ciclope.

Aí que um dia recebi a visita dela. Tolice era acreditar que ela nunca fosse me achar. Ao contrário das cadelas que ao meu ver são bem mais prudentes, sensatas e realistas, as mães acham que podem lamber seus filhotes a vida toda. O que é um grande engano. Mas aí então que eu acordei com batidas secas na porta e pus-me assustado no centro da cama vendo tudo girar em minha volta. Minha cabeça era um torno de fundição girando girando enquanto as batidas secas insistiam martelando o crânio. Olhei pra Alex que dormia feito um anjo ao meu lado como se nada daquilo estivesse acontecendo. Os olhos do sol penetraram vivos e pontiagudos pelo vão da janela semi-aberta derramando sua luz pelo chão do quarto. Levantei muito a contra gosto e fui ver quem era. Abri um palmo da porta e dei com rosto gordo de Dona Dalva que vinha anunciar a visita ilustre:
“Esta senhora esta lhe procurando!” Tomei um caralho de um susto quando a sombra d ela se colocou atrás de Dona Dalva. Pediu licença e foi entrando devagar, deslizando seu olhar lúgubre por todo o interior do quarto. Caminhou ate á janela e ali ficou por longos e torturantes minutos. Voltei a me sentar na cama ao lado de Alex que continuava dormindo. Não sei por quanto tempo reinou um silencio azedo e mordaz ali dentro. Deixei que ela puxasse primeiro o sabre da bainha e desse inicio a esgrima como sempre o fez. E foi exatamente o que aconteceu:
“Tal e qual o pai.” Disse ela finalmente.
“Que que tem ele?”
“Gostava de viver na lama com os porcos.” Respondeu ela. Sobreveio novamente o silencio carregado de azedume. Ela parecia um monte de escombros escorada na janela com seu olhar triste. O olhar triste das mães. Ouvi dali as primeiras portas de ferro dos bares erguendo-se preguiçosamente juntamente com os primeiros palavrões que já se acotovelavam pelas ruas estreitas da velha Mauá. Era o puteiro arreganhando-se nos primeiros acordes do dia.
Alex dessa vez se moveu um pouquinho só na cama e ¼ de suas coxas lisas e brancas escaparam furtivamente dos lençóis e ali se mantiveram expostas, e eu tive vontade de amá-lo outra vez, o dia inteiro. Tratei de cobri-las. Era bonito ver ele dormindo. Puro como um anjo: tão longe e tão perto das tempestades da vida. Ela tornou outra vez:
“Não sei por que puxaste tanto a teu pai. É tal e qual teu pai: escarrado carne e osso. Sim, porque teu pai nunca teve alma.”
“Não comece, porra!!” Segurei minha têmporas inchadas que pareciam duas maças explosivas.
“A verdade machuca, eu sei. Mas ela precisa ser dita, não é mesmo?”
“Como a senhora descobriu que eu estava aqui?” Desconversei.
“Farejei tuas coisas. Tuas porcarias escritas ainda estão espalhadas pela casa.” Fui ate a janela me aproximando dela. Olhamos a rua, calados. Examinei de perto seus olhos cobertos por películas de lágrimas e senti a mão gelada de um cadáver apertando meu coração. O quarto transformara-se numa enorme pupila borbulhante de tristeza.
“O que a senhora quer, mãe?”
“Ver como estás?”
“Estou bem.”
“Não sabes o mal que estás fazendo vivendo aqui. Isso aqui é só lama e dor. Volta pra tua casa.”
“Gosto daqui, mãe.”
“Vais enterrar o que te resta da juventude aqui, nesse buraco?”
“Escolha minha. Problema meu.”
“Toda escolha é um caminho sem volta. Lembras disso.”
“Lembrarei, mãe.”
Se virou lançando o olhar para Alex que dormia esparramado na cama, parecendo uma flor.
“Não tenho mais controle de ti. Acho que nunca tive. Sempre fizeste o que te deu na telha. Não soube te criar.”
“Sou grato a senhora.”
“Odeias tua mãe, é isso.”
‘Não odeio não.”
“Odeias sim. Sejamos franco um pro outro. Fui o diabo na tua vida assim como fostes o fardo na minha.”
“Então estamos quites.”
“Estamos. Esquecerei que tenho um filho.”
Fez novamente silencio rasgado apenas por um brega antigo e tanatico que gritava lá de baixo de um bar qualquer que a vida era uma fatalidade. Em seguida, ouvimos o velho e majestoso apito de um navio atracando no Rodway. Alex despertou finalmente e da cama se pôs a olhar confuso pra nós dois. Tinha os cabelos desgrenhados e os olhinhos bem vivos e claros. Do jeito que veio ao mundo levantou-se e caminhou cadencioso com sua pele de leite até o banheiro. Alex não tinha pudor nenhum. Encantava-me o despudor daquele menino; sua pele branca e suave de leite. Ela veio de lá outra vez:
“Ainda por cima tornastes um aliciador de menores. Quantos anos tem esse garoto?”
“Alex faz dezoito domingo que vem, mãe.”
“Não interessa. Ainda é um menino. Não sentes vergonha disso?”
“Gosto dele, mãe.
“Nunca te entenderei mesmo.”
“É bom que não entenda mesmo. Nem eu me entendo.”
“O que tu és afinal?”
“Sou o que sou.”
“Ninguém é o que é simplesmente.”
“Pois bem. A senhora ta é certa. Tento ser um pouco mais do que isso.”
“Vivendo aqui nesse pardieiro?”
“Vivendo aqui nesse pardieiro.”
“Não vais agüentar viver aqui por muito tempo. Vais morrer nesse lugar.”
“Todo homem traz dentro de si seu próprio aniquilamento.”
“Tu e as tuas filosofias que só te empurraram pra lama.”
Ouvimos o barulho de uma descarga e em seguida uns risinhos vindo do banheiro. Alex se divertia pra valer, o putinho.
“E o teu curso?”
“Não tenho mais curso.”
“Abandonaste a faculdade?”
“Um bando de merdas metidos a intelectuais que perderam o humor. É isso o que penso daquela gente toda.”
“E o que vai fazer da tua vida agora? Ser um escritor e viver de brisa?”
“Posso tentar...”
“Achas que pode, levando essa vida? Sem ajuda minha?”
“Acho que sim, sei lá. Se não der certo, viro cafetão de puta ou então farei michê nas ruas.” Mais risinhos do banheiro. Ainda se encontra um pouco de humor na ressaca. Do cais, O Lloyd soprava com mais força demonstrando vontade de ficar. Acendi meu cigarro todo amassado e pude então relaxar um pouco olhando da janela o movimento preguiçoso dos passantes. Cedo, as putas já negociavam seus corpos pelas portas dos bares. O sol tinha ficado mais escroto e já começava a cozinhar a neura de muita gente lá fora, inclusive a minha. Na porta do “Leviannas”, alguém pregava as palavras de Deus:
“Bendito são aqueles que guardam as palavras dessa profecia, pois o dia do juízo está bem próximo e toda podridão desse lugar, meus irmãos, arderá nas chamas do inferno.”
Dizia o pregador com as veias dele saltando do pescoço grosso e empapado de suor. Perto dali, um bêbado estirado derretia sob a marquise de um prédio antigo, enquanto um cão lambia-lhe o rosto. As horas arrastavam seus grilhões enquanto a presença dela no quarto era uma enorme mortalha cobrindo tudo.
“Vim aqui pra abrir teus olhos, mas teu coração se fechou pra tudo.” Sua voz soou dessa vez rancorosa atrás de mim. O som rancoroso de uma engrenagem velha. “Tornastes um egoísta. Não respeitastes a minha velhice e a minha cegueira.”
“Cegueira? A cegueira é pior que a morte.” Pensei. Minhas fobras estremeceram. Virei pra ela disfarçando o susto.
“Como assim, cegueira?”
“Tenho catarata, esqueceu? O médico me deu seis meses, e uma operação na minha idade é arriscado.”
É, ela ainda sabia mover bem as pedras de um xadrez. As pedras que sempre me venceram.
“Mas não te preocupas não, tenho setenta e pouco, o bastante pra ter visto tudo que não presta nessa vida. É só esperar agora a cegueira chegar. Mas o pior de tudo não é a cegueira que na minha porta bate, mas a ingratidão de um filho que nunca tive. Gerei um filho ingrato. Ficas com a vida que escolhestes pra ti. Quando eu atravessar aquela porta, esquece que tens mãe.”
Sucedeu um longo silencio entrecortado de angustia. Um coração estranho e clandestino socava-me o peito. Ela finalmente dera as costas e vi seus passos se arrastarem na direção da porta. Contei mentalmente até dez e então corri para o topo da escada onde ainda pude ver sua silhueta curva desaparecer no vão do nada e gritei:
“MÃE! TE AMO CARALHO!!”
Mas era um grito surdo, empalado dentro de mim.
Quando voltei pro quarto, Alex estava sentado no centro da cama me chamando com as mãos, e eu deitei em seu colo e ele me acariciou os cabelos, e ficou ali ouvindo sem nada dizer, meu interior chorando baixinho o dia todo. Melhor assim. Parecia que entendia minha dor. Assim como eu, ele tambem havia matado sua mãe...

Em memória de minha mãe Eunice...
07/10/1929/ 17/09/2009

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

MINHA PRIMEIRA TATUAGE M


Enquanto não penso em um novo conto para postar aqui, gostaria de partilhar uma experiencia boba com voces.
Só agora, aos trinta e poucos anos, depois da morte de minha mãe, é que decidi usar uma tatuagem. Sempre fui louco por tatuagens, e sentia imensa inveja quando eu via amigas ou amigos meus, tatuados. Só que nunca pude usar por respeito aos meus pais – mas precisamente por minha mãe que nunca aprovou a idéia. “Coisa de vagabundo, meu filho!” Era o que ela alegava, e eu, é claro, acatava por respeito a ela. Mesmo depois de estar trabalhando, de ter assumido de certa maneira minha independência financeira, nunca pude usar, sequer mencionar a idéia de vir um dia usar uma tatuagem. Era o mesmo que dizer a ela que um dia possuiria uma moto. Era o mesmo que matá-la por dentro. E vê-la sofrer, era tudo que eu menos queria. Por isso, respeitei a sua decisão, até este ano, quando ela veio a falecer em 22 de setembro. Não vou mentir que me sinto hoje, depois de seu desaparecimento, absolutamente feliz e livre. Embora saiba que nunca se é feliz quando se perde alguém que se ama profundamente. Tampouco se é livre, pois que liberdade, segundo o filósofo Sartre, não existe. Mas me permito realizar conscientemente, as coisas que sempre quis fazer. Como por exemplo, usar finalmente uma tatuagem. E foi isso que fiz, além de assumir meu lado feminino. A moto, ainda não sei, quem sabe um dia...
A sensação provocada pelas agulhinhas mergulhando na tua carne, é uma sensação gostosa, embora dolorida. Uma dorzinha que se prolongou por meia hora, o tempo que durou o trabalho. Nesse intervalo, para me distrair e esquecer um pouco a dorzinha incômoda, tentei conversar com o tatuador, um moreno bem simpático, porém, fechado e econômico nas palavras. O que tornou nossa conversa um tanto trivial, monologada, mas que de certa maneira, ajudou o tempo passar rápido e superar as dorzinhas inconvenientes da agulha. Finalmente olhei no espelho e vi em minhas costas, a figura de uma linda borboleta sobrevoando a inicial do meu nome “M”. Foi o Desenho que escolhi. Nada chamativo, monumental, mas algo bem discreto e sensível, como esse rapaz o é.
Saí do estúdio saltitante e feliz, debaixo de uma chuvinha fina e alegre de dezembro Tornara-me uma criança tola que acabara de ganhar um doce ou um brinquedo novo. Mas era uma tatuagem que eu havia finalmente decidido usar: minha primeira tatuagem. Uma experiência nova que estou certa que nunca vou esquecer...

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

AA CCOLONIA - PARTE XIV


8° ddia dde mmarço
11:45 mminutos


Aamado Aagaton, hhoje ccelebro aa ffelicidade ssublime dde mminha vvida.
Ppari uuma rrosa.



ffim




Agradeço aqueles que disporam da paciência em acompanhar mais este novo trabalho...
Em breve, "HYLDA".

Abraços e um feliz carnaval a todos!!!

domingo, 7 de fevereiro de 2010

AA CCOLONIA


07° ddia dde mmarço
Ddomingo – 23:40mm

Aamado Aagaton, mmeus nníveis dde eenergia eestão mmuito aabaixos ddo AALFANÍVEL. Ppareço mesmo nnão cconter mmais oo ffluxo ddas ccoisas. Mminha MMONORAZÃO vvai aaos ppoucos sse ddisolvendo, cconcomitantemente, aa ddefesa dde mminhas EEMBRIOCÉLULAS, llamento iinformar-lhe. Pporém, oo qque mmais mme ppreocupa, nnão éé essa mminha ddissolvição MMONORGÂNICA , mmas oo ddestino dde nnosso FFRUTO-EESPÉCIE. Ttão ppequeno e ttão pprecioso esse ddom dda vvida ddentro dde mmeu BBOLSÃO-AABDOMEN. Aa ppropósito ddisso, cchamar-se-á Rrosalíneo. Ttomei aa lliberdade ee aatribuí-lhe eeste EEMBRIONOME eem hhomenagem àas rrosáceas ssem eespinhos que jjuntos rreiplantamos nnos jjardins eesquecidos dda éénesima llua dde Aandrômeda. Fflores ssem eespinhos que ccrescerão ee sse mmutualizarão ccomo assim ddeverá sser oo aamor eentre oos hhomens nno ffuturo. Uum aamor ssem eespinhos, ssem ggrades, ssem llei. Ttodavia, éé mmister eesperar...
Aatravés dde uuma ppequena JJANELA-MMEMBRANA llogo àà ddireita dddesta EEMBRIOCELA, ccontemplo eem ttristonho ssilêncio oos ffios dde ppotássio qque ccaem aanunciando uum iinverno llongo ee rrigoroso. Nna vverdade, qqueria mmuito que cchovesse. Que rreexistisse aa cchuva. Nnunca eem ttoda mminha vvida, eeu vvi aa cchuva. Vvocê jjá, aamado Aagaton? Ddecerto que nnão. Tteria eela ggosto? ccheiro? ccor? ssexo? Ssó cconheço aa ardência ddo ssol, aas eestrelas aazuis ffosforescentes, aas ssecreções llacrimais dde nnossos vvulcões, oos vventos aartificiais que ssopram ddos mmoinhos dde ccristais eeólicos, ee éé cclaro esses ttênues ffios dde ppotássio que nnesta éépoca ddo aano eeventualmente ddespreendem-se ddas nnuvens dde mmagnésio que sse aadensam eencobrindo aas lluas mmenstrudas. Prrecisamos rreiventar aa cchuva ppra ffertilizar oo ssolo ddessa EEMBRIOTERRA, qquerido Aagáton, ee ddela ffazer bbrotar ooutra vvez oos nnossos ggirassóis aamarelos.
Quem ssabe uum dia. Aamanhã talvez?

Ssempre,
Ssmirnoff

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

AA CCOLONIA - PARTE XII


6 ddia dde mmarço
ssexta-ffeira 14:40

Aamado Aagaton, aacredito sserem eestas aas úúltimas llinhas ddesta EEMBRIOCARTA. Aacho-me ddominado dde eextremo ccansaço ee ttorpor nnestas pprimeiras mmanhãs dde mmarço eem que nneva ffios dde ppotássio llá ffora eem rrazão dda eestação HHIBERNAL que sse aaproxima. Ddecerto que sserá aa mmais ttriste dde ttodas, pposto que eeste aano sseremos pprivados dde eescalarmos jjuntos oos FFALOS EEVERESTES ddas rrregiões ppolares dde Uurano I. Mmas pprometo nnão cchorar.
Oo ttempo ppassa ddevagar, aagora que cconfinaram-me aabsolutamente eem uuma ccélula eembrionária ee dde ttudo ssou pprivado; aaté mmeus ssonhos mmais ssecretos ssão mmonitorados. Gguardo-me eem pprofundo ssilêncio ddesde eentão, iinvólucro ddentro dde mmim mmesmo ttal qqual ffazem aas EEMBRIOOSTRAS ddos llagos aartificiais dda Nnova Cchina, qquando aacossadas ee ccapturadas. Aamado, rreceio eem nnão tterminar mmeu EEMBRIONSAIO ssobre o “Cculineo – Oo rreto que nnos cconduzirá àà ffraternidade ee aa ccompreenssão hhumana.” Ffaltam-me vvigor ee mmotivação. Ccontudo, aalegra-me oo ffato dde ssaber qque aa ssemente ffoi llançada ((unné ccontributéé sspecifiquéé dde ll´aactivité dde´lléé rrazzoneté hhummainé...)) Que tte pparece mmeu VVACCUITÉÉ? Escabroso, éé bbem vverdade, nno eentanto, ppossível ssim dde iintegrá-llo nno cciclo vvariativo dde nnossa EEMBRIOLÍNGUA. Mmas isso éé aapenas mmais uum ooutro ddetalhe ppormenorizado. Vvoltemos ppoortanto aao mmeu ssofrimento uuterino...

Aamor,
Ssmirnoff

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

AA CCOLONIA - PARTE XI


3° ddia dde mmarço
Qquarta-ffeira 20:50

Qquerido Aagaton, hhoje ccompus uum EEMBRIOPOEMA:

“Mmil hhomens nnus eem ccomunhão
Nnuma llinda aalcova dde eestrelas.
Ddançando ee ccantando
Eeu vvou aatravessando aa
Eenésima llua dda vvida.
Aamo, rrio, aabraço, pprocrio;
Aaninha-sse nnos áátomos
Aa ssemente dda pperfeição...

Qqualquer qque sseja oo rresultado ddessa eentrevista dde nnatureza iinquisitória, aamado Aagaton, sserei dde aalgum mmodo ttransferido aa uuma ooutra bbase ggeostacionária uuterina ee ssubmetido ddessa vvez áá uum ttribunal dde eesfera mmaior oonde ccertamente sserei jjulgado ee ccondenado. Aaqui nnão sse ttem – ee jjá mme iinteirei ddisso - qqualquer cconhecimento dde aalgum ccaso dde aabsolvição rreal, ee ttodo eempenho nnesse ssentido sseria aabsolutamente eestéril, dde mmodo qque nnão hhá ppossibilidade aalguma dde nutrir eesperanças eem sse oobter aalgum bbeneficio aa mmeu ffavor. Aa llei éé mmesmo ddura ee iinflexível. Ppassível dde ccrime, pportanto. Llembra-se dde Oorgônio ee dde ssuas ppartículas ccósmicas ddos qquais ssempre ddependeram ee vvão ddepender aa lliberdade ee oo ppoder oorgásmico ddos iindividúos, ee ppor cconta ddisso eele ffoi ppreso ee ccondenado? Ccom eefeito, nnão aatribuo nnehuma ssiginificação dde oordem rrelevante nno que ttangencia aa nnatureza dde mminha ddetenção ee dde mmeu jjulgamento ddescabido nnesta hhabitação eembrionária, ssenão ttornar ppública uuma eevidente ssituação dde pprofunda hhumilhação ee iinjustiça. Ddeliberadamente éé isso.

Ssempre seu,
Ssmirnoff

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

AA CCOLONIA - PARTE X


01 ddia dde mmarço
Ssegunda-ffeira- 12:45mm


LLEILAH: Ssr. Ssmirnoff, cconfere??
SSMIRNOFF:Cconfere.
LEILAH: Eentão vvamos llogo aao pponto, Ssr.Ssmirnoff. Oo ssenhor ssabe ppor qque Mmonorrazão eencontra-sse aaqui, eem nnossa ccolônia dde fférias??
SSMIRNOFF: Ddesconfio. Mmas ggostaria dde tter ccerteza.
LEILAH: Oo ssenhor eestá ggrávido.
SSMIRNOFF: Éé oo que pparece...
LEILAH: Aa ssua ggravidez ccontraria oos pprincipios dda llei oorgânica, aalém ddo que, eestá eescrevendo uum EEMBRIOENSAIO dde ccaráter cconspiratório.
SSMIRNOFF: Ccomo assim?
LEILAH: Eem sseu EEMBRIOENSAIO, Ssr.Ssmirnoff, oo ssenhor sse ddeclara aa ffavor dda ggravidez eentre oos hhomens aatravés ddo pprocesso eextra-uuterino. Pprocede?

((Ttosses))

SSMIRNOFF: Ppauto mmeu EEMBRIOENSAIO nna lliberdade ee nna ddefesa dda vvida.
LEILAH: Rromântico, mas nnnão éé oo que pparece, Sr.Ssmirnoff, llevando eem cconta oo aalto iindice dde mmortalidade PPÓS-FFETAL, rresultante ddessa eexperiencia ddesastrosa. Oo que mme ddiz?

((Ppiscam-lhe ssérias ddemais as ppálpebras))

SSMIRNOFF: Eestão nnos bboicotando aas ddosagens nnecessárias dda HHORMONOFÊMEA ee aalterando sseu CCICLO-CCLOGÊNICO-HHORMONO-MMENSTRUAL, oo que cconfigura-sse uuma ssabotagem.
LEILAH: Nnão hhá ccomo! Mmas eeste nnão éé oo pponto.
SSMIRNOFF: Ee qqual éé oo pponto?
LEILAH: Aa ssubversão dda Llei Nnatural.
SSMIRNOFF: Nnão eestamos ssubvertendo nnada aalém ddo que jjá ffoi ssubvertido.
LEILAH: Oo ssenhor eestá mme eentrebelando, Ssr.Ssmirnoff?

((Oolha bbem ppro sseu rrosto ttriangular))

SSMIRNOFF: Nnão, nnão eestou.
LEILAH: Ssr. Ssmirnoff, oo ssenhor ppertence àà aalguma rrede cconspiratória?
SSMIRNOFF: Iisto éé uuma ppergunta oo uuma aafirmação?
LEILAH: Nnão mme eentrebele, Ssr. Ssminorf, llimite-sse aapenas àà ssua rresposta.
SSMIRNOFF: Nnão, nnão ppertenço.
LEILAH: Mmas llouva oou ppresa qqualquer aação ddestes aanti-ggrupos qque ccontemplam aa vviolação ddo ccódigo ggenético, ppois nnão?
SSMIRNOFF: Llouvo oo nnovo. Ttudo aaquilo que ccontemple oo ddireito aa vvida ee lliberdade dde eescolha. Aafirmo ee aatesto!
LEILAH: Mmesmo que vvenha ccustar aa vvida ddessas ppessoinhas? Vvolto aa iindagar.
SSMIRNOFF: Ppessoinhas...?
LEILAH: Ssr.Ssmirnoff!!
SSMIRNOFF: Aa ggravidez eextra-uuterina éé uum EEMBRIOFATO iirrevogável, mmoça!
LEILAH: Mmodere oo ttratamento, Ssr Ssmirnoff! Aaqui ssou uuma ggestora. Ttrate-mme ccomo ttal.
SSMIRNOFF: Ddesculpe.
LEILAH: Ssr. Ssmirnoff, eem sseu EEMBRIOENSAIO, oo ssenhor ttorna cclaro que ppretende ffundar uuma nnova ccolônia ccom bbase nna rrecriação dda eespécie. Qque eespécie éé eessa, Ssr.Ssmirnof?
SSMIRNOFF: Uuma eespécie em eevolução.
LEILAH: Rrefere-sse aaos hhomens, pportanto.
SSMIRNOFF: Uuma eespécie eem evolução.
LEILAH: Nnão mme eentrebele, Srs. Ssmirnoff. oo Ssr. eestá eentrebelando aa mmim ee aao EENTREBELADOR àà mmesa, nnão eesqueça.
SSMIRNOFF: É iiso, ggestora. Uuma ccolônia dde hhomens.
LEILAH: Uum rretorno aa uuma ssociedade ppatriarcal, éé isso?
SSMIRNOFF: Uuma ssociedade livre e ppróspera.
LEILAH: Mmas oo Ssr. hhá de cconvir, Ssr. Ssmnirnoff, que oos hhomens ffalharam, eentão ppor quê aa ttentativa ttola dde rrecriar aa eespécie?
SSMIRNOFF: Ccom bbase eem que aa moça... aa ggestora, mme pperdoe, aafirma iisto?
LEILAH: Aao que aaconteceu ààs ooutras ccolonias nno ppassado. Vvocês ddestruiram ttodas eelas. Nnão ssouberram ggestá-llas. Fforram eegoistas ee aambiciosos ddemais.
SSMIRNOFF: Hhá uum ennorme eequivoco nno que aafirma, ggestora.
EENTREBELADOR: TTENTATIVA DDE EENTREBELAÇÃO!1 TTENTATIVA DDE EENTREBELAÇÃO!!

(( Ggestora aaponta ppro EENTREBELHO))

LEILAH: Ssabe oo que isso ssignifica, ppois nnão Sr.Smmirnoff?
SSMIRNOFF: Ppenso que ssim. Ddesculpe!
LEILAH: Pporventura, Ssr.Ssmirnoff, aacredita que ppode sser Ddeus? Aa ppropósito Ssr. Ssmirnoff, oo ssenhor aacredita NNELE? Oo que ppensa de Ddeus?
SSMIRNOFF: Ssou uum ggeneticista, ee pportanto aafirmo-llhe que Ddeus ffoi uuma ppolitica mal ddesenvolvida nneste EEMBRIOSFÉRIO. Ddai a MMONORRAZÃO dde ssua eextinção; tter sse ttransformado eem mmoeda dde ttroca.
LEILAH: Ddeus ddeixou dde eexistir ppara oo ssenhor, ssuponho.
SSMIRNOFF: Pperfeitamente, sse é isso que a ssenhora aalmeja ssaber.
LEILAH: Oo ssenhor éé eegoista, Ssr. Ssmirnoff?
SSMIRNOFF Ppor que nnão aacredito eem Ddeus?
LEILAH: Nnão mme eentrebele!
SSMIRNOFF: Aabreviarei, portanto. Oo eegoismo cconduz sse nnão àà iimortalidade, ee aaqui sobremaneira nnão mme rrefiro somente àà iimortalidade dda aalma oou aa qqualquer ooutro ssobrefluxo, mmas oo qque ppreescreve àà ttodos oos sseres, oo ddireito dde aamar ee pprocriar qque éé uum ddireito nnatural ee qque ttambém sse aaplica àà nnós. Dde mmodo qque aaqui, nnão ffaço uuso dde eentrebelações ccomo eevidentemente vvirá ssupor aa ggestora ee oo EENTTREBELADOR aao ffinal ddesta eentrevista. Eem ssuma, ssou uum eegoísta ssim.
LLEILAH: Oo Ssr.ccomo ggeneticista mme eenvergonha ee eenvergonha aa ssua cclasse, Ssr. Ssmirnoff.
((Assentimento dda eespinha ddorsal))

LLEILAH: Mmas eeste nnão éé oo pponto. Aa nnatureza dde ssuas aafirmações lleva-me aa ccrer que – aalém éé cclaro, ddas pprovas ffisicas-eevidentes – aa aacusação que ppesa-llhe nnos oombros, vvalida aas nnossas ssuspeitas ee cconvições. Dde mmodo qque, aapós aas cconclusões ddessa eentrevista, o Ssr. sserá eencaminhado àà ccomissão dde EMBRIOÉTICA oonde sserá jjulgado ppor uuma eesfera mmaior ee, cconforme ffor, sserá ccondenado oou aabsolvido, ssendo eesta úúltima, llamento iinforma-llhe, ppouco pprovável que aaconteça.


((FFIM DDA TTRANSCRIÇÃO))