segunda-feira, 22 de março de 2010

O EVANGELHO DE PASSOLINI


Revendo Passolini, ele é sem dúvida, dentro da safra dos neo-realistas italianos, juntamente com De Sica “O Ladrão de Bicicletas” e Etore Scola “Belos Sujos e Malditos”, o meu cineasta favorito. Senão, o melhor. Dentre os muitos filmes que dirigiu e que assisti, tais como, “Teorema”, “120 Dias de Sodoma”, “Mamma Roma”, “Desajuste Social” e etc, “Decameron” e o “O Evangelho Segundo Mateus”, são os meus prediletos. Mas precisamente este segundo o qual recentemente tive a sorte de encontrar numa liquidação nas Lojas Americanas e a gora faz parte da minha videoteca.
O Evangelho Segundo Mateus, embalado pela trilha clássica de Bach, Mozart e Procovief, é simplesmente soberbo. As imagens são de um lirismo e simbologias únicas. Não há nada de polêmico no filme, com exceção de um Cristo que nos é mostrado dentro de uma visão Marxista e despojada e cuja imagem irada contradiz com a visão comumente parcimoniosa e meiga de um Cristo sempre disposto a tudo tolerar. Os sermões desse Cristo irascível são inflamados e seu temperamento raivoso é constantemente sujeito a descontroles, como é mostrado numa das cenas em que sua expressão mais clara está na forma exaltada com que ele reage ao estado corrompido em que encontra Jerusalém.
As ações milagrosas realizadas por este Cristo são mostradas de forma simples e não dentro de um tom épico e mistificador como estamos costumados a ver Wollydianamente. O milagre aqui não precisa ser justificado, posto que milagre é milagre, você acredita nele ou não, e seu filme se relaciona integralmente com este ponto. O filme não discute aqui o milagre, apenas o expõe de maneira simples e poética.
Passolini fez um filme muito mais sobre a literariedade de Cristo do que propriamente a sua vida ou seu calvário. Ao contrário de ser um filme sobre flagelações e violência a La Mel Gibson, Passolini buscou a leveza poética para traduzir a beleza singela e a mágica do cinema.

O Evangelho Segundo Mateus, é mais um filme que recomendo.

sexta-feira, 19 de março de 2010

COMO MORREM OS ESCRITORES EM MANAUS


COMO MORREM OS ESCRITORES EM MANAUS

(Por Marcos Ney para o zinejornal A GASTRITE 2.Edição)

Tatuou o jaraqui no bucho. Vomitou os peixes de papel borrando a boca. O jornal sujado pelo fel e escama mancheteiava o grito: como morrem os escritores em Manaus? Podem cair mil tucanos à direita e mil sapos à esquerda que não cairá uma lágrima dos olhos da Zuele. Quem chorou a morte de Luíz Libertino, assassinado pelo esquecimento lá na Avenida das Torres? Manaus já nasceu póstuma com essa miséria de conhecimento. Um povo tão dócil que está sendo embrutecido pela espinhatez dessa classe média estúpida. O último livro de poemas dessa cidade foi o Obtuário de Tanatos, escrito por mim. Vivemos para rirmos de nós. Um riso transforma o rosto numa flor. Hoje é dia da colheita das rosas cinzas. O mundo médio será o primeiro a ser ceifado. O que tem escrito por atrás das letras escondidas? Por que os imortais morrem? A academia está com suas cátedras vazias. O carpinteiro se aposentou. Depois de escrever á Beça, morre-se de gripe H1N1. A Astride morreu de gastrite. Narciso viveu sua vida pela metade olhando um lobo no espelho. O teatro dessa cidade virou uma árvore sem natal. Teatro abobadado de piscas-piscas piscando a idiotice do povo e a estupidez do governo. Vão se apagar. Somos governados por ladrões de energia. Engrácio morreu de graça sem “Os pingos nos iis.” Quem ouviu o grito do poeta que se jogou da varanda do cais privatizado? O contista em sua obra: O Estatuto do lerdo, exclamou: “A partir de agora o leso deixará de ser abestado!” Os novos escritores da velha Manaus vivem da Sirrose. Olhem em volta de Manaus, milhares de igrejas evangélicas transformando-se no Teatro da periferia, teatro da orgia, da mentira dita de verdades; as galeras, os assassinatos, o tráfico de idéias, a política, a policia rondando ostensivamente em busca de uns trocados, um juiz bêbado no dia do juízo, o gay grávido batendo no marido, a fábrica de clonagem, o ônibus lotado, o estudante sem carteira, o jornal que não consegue ser lido em dez minutos porque não consegue ser escrito em cinco. O único bar de intelectuais anacrônicos é o bar do Armando. A floresta é grande demais pra sumir. Precisamos nos destruir antes que o carbono nos apague. A folha cai da árvore mais alta na perspectiva do chão. Vai caindo, caindo, caindo, esbarrando-se em outras folhas longas, longas, largas, secas, vivas, mortas, vai caindo até alcançar a terra que também cai, não se sabe pra onde. Eu que escrevi o Sindicato dos Inválidos, caio com os que estão caindo. Nos encontramos nas quedas. Editando a Revista Sirrose com Márcio Santana, Max Caracol, Virgilio Simões, Nira Martins, Farrapo, Victor Hugo, Vagner, Jalna Gordiano, Amarildo Maciel, vivenciei a escrita como existência. Criamos mundos, eus, realidades... Alegro-me em ver os livretos do Adriano Furtado (O Desenhista Voador, Fala mas Faz, Formicida, dentre outros...). O zine Ampulheta de Ayub e Sâmila, e agora o zinejornal A Gastrite, editada por Márcio Santana. Morre-se um escritor. Nascem dez. Essa é a chantagem físiofilosófica da miséria baré que nos assola há milhares de tempos. Não precisamos de territórios. O espaço é universal, sem fronteiras. O que importa é o evento. O agora.

segunda-feira, 15 de março de 2010

PITOCO - PARTE III


não tivesse sido o maçarico que cospe fogo azulado, não tinha entregado o Chocolate, não. Nem com nojo. Pancadas fortes na porta. A casa cercadinha. Zefa Parideira é quem vai atender. Um talo de rosto sofrido no vão da porta. Quem nunca a viu, não lhe dá vinte anos. Ficou velha de parir. É o que dizem os olhos e as bocas.

"Cade o Chocolate?"
"Não mora mais aqui não, Esmeraldino."
"Mora sim que sabemos!" Adentram à força o velho barraco. Malandro arisco, Esmeraldino. O alcançam pulando a janela. Camiseta no ombro; sandália de dedo no pé. O arrastam para a rua. Sob a aderencia do sol, nuca grossa de guariba, empapada de suor. Não carece ver o rosto não. Pra que? Ladrão não tem rosto mesmo. Ahh, bandido, dessa feita não tem jogo não, reina o Cabo Mariano.A boca salivando de ódio. A manduquinha sacoleja pros lados com os bofetões do soldado. A tudo espia da porta, Zefa Parideira. Sua pele é negra e surda. Pariu quinze, sim senhor. Todos nascidos tortos de banda pro crime. Com exceção do caçula que ainda tinha conserto, mas a cobra engoliu. Vê agora calada, a ultima cria, o efetivo levar. Este não volta nunca mais. Pretume no peito de mãe. A bocarra detras se fecha. Não tivesse sido o maçarico que cospe fogo azulado, não tinha entregado o amigo mesmo não. Nem com nojo!
Atravessa correndo a ruazinha até onde finda o asfalto. Volta pra casa, moleque! Grita á janela o Cabo Mariano. Aí entçao ele pára. Depressinha, elas já se vão longe, subindo a Rio Alto; sumindo, sumindo na poeira do asfalto...
Domingo. Calor de doido mesmo. Pitoco cobre os olhos com o braço. Nesga de nuvem pedindo clemencia ao sol.

PITOCO - PARTE II

"Ei moleque!!" Voz de trovão. Acorda o cão espantado. Expulsa as feridas das moscas. "Parado aí moleque!"" Quer ainda escapar.Um par imenso de mão enlaçando a finura do braço. Como é que escapa?
"Onde mora o Chocolate?"
"Sei de nada não, senhor."
"Sabe sim, velho ali deu o bizú."
"Sei de nada não, senhor."
"Cabo, mostra pra ele o maçarico!!" O Cabo retira do portamalas o instrumento que cospe um fogo azulado. O mesmo com que os canas costumam marcar testiculos de ladrão. Foi o Chocolate que disse. Tinha o dele marcado também. O enfiam as pressas na manduquinha. Ele que nunca tinha andado de carro na vida: azedinho de pitomba na ponta da língua.
"Onde mora o Chocolate, moleque?"
O cana no volante tem uma cara de sapo. Grande e larga. Uma cara de sapo. Repara Pitoco. Ele que não é bicho nem nada, não quer sentir o maçarico que cospe fogo azulado queimando os colhões dele, não. Por isso dá com a língua nos dentes.
"Localizamos o meliante! Na final da Bem-te Vi."
Já chegam fazendo alarde. São muitos os olhos que saltam das órbitas das casas. Pitoco apontando com beiço chororo na direção de um casebre torto que a terra engole de lado. É lá que mora o Chocolate...

PITOCO - PARTE I


Domingo. A tarde quente arrasta-se claudicante pelas artérias do bairro sujo. Alguém da janela amola os facões e canta as pedras do jogo: Destino de homem é como faca de duas pontas, uma que amacia e a outra que corta.Dia seco. Calor dos infernos. Ranho pastoso escorrendo das narinas do sol. Até Deus faz careta. Lava o rosto e as mãos. O rosto e as mãos.
Pitoco é trastezinho de gente. É quem primeiro ver as manduquinhas chegarem devagar, descendo a Rio Alto. Vem em número de cinco. Conta direitinho nos dedos. Quem ensinou ele a contar foki o Chocolate. Cara legal o Chocolate. Só não entendia bem era porque que ali no bairro ninguém gostava do Chocolate. Só porque era ladrão? E quem não é ladrão ali? Chocolate mesmo não vivia lhe dizendo que ladrão de verdade era o tal de Sucuri, que montou comércio explorando gente? E ladrão que rouba ladrão tem mil amnos de perdão. Quem falou foi o Chocolate. Por isso os pészinhos lépidos e descalços fazendo PLEC PLEC PLEC sobre o asfalto escaldante; vai avisar o amigo do perigo iminente. As casinhas emadeiradas e tristes a vigiar-lhe cismadas as passadas ligeiras. Parecem até que adivinham.
Procura nos becos, vielas, bares e bocas. Conhece de cabo a rabo a quebrada onde vive. Nasceu do bairro mole amigado com o asfalto duro. Cresceu livre nas ruas, no meio da malandragem. De estatura baixa, a pele escura, corpo franzino. O alcunho de Pitoco lhe sentou direitinho. Ligava pra isso não. Fazia aviõezinhos pra moçada e com isso descolava alguns trocados.Assim, ia levando Pitoco a vida.
Ao longe, avista baculejo no bar do Sucuri. A galera do Ratão, todos duros de encontro à parede:
"Onde mora o Chocolate?"
"Ninguém sabe aqui não, chefia."
Bordoadas nas costas da marginália.
"Doutor, - intervém o dono do boteco - a molecada aí não sabe de nada mesmo, não."
"Acobertando, velho?"
"Tô não, doutor! Também não gosto do sujeito. Prejuízo do cão."
Abre um guaranazinho e serve aos homens da lei. O sol vem de cima cozinhando moleira de gente. Se avizinha mais, Sucuri. Boca larga. De maneira que diz: "Só tem uma pessoa aqui que sabe o paradeiro do tal sujeito."
"Quem?"
"Pitoco!Conhece cada buraco desses."
"Pitoco? Pitoco é o nome do meu cachorro, porra!" Ri mais que os outros, o cabo que bate. Limpa o suor da testa. Nos fundos - antes que a morte chegue - um ancião pede outra dose. Olha sem norte. De asas abertas, dois urubus secando ao sol.
"E quede o moleque?"
"Olhe ele ali passando!" Aponta com beiço Sucuri.

continua...

sábado, 6 de março de 2010

CALUNIA E DIFAMAÇÃO

A TODOS VOCES QUE CARINHoSAMENTE VEM ACOMPANHANDO ESSE MEU BLOG,

Sinto-me na obrigação e por reipeito que tenho a todos voces, de esclarecer nesse espaço, as ofensas, difamações e calúnias que venho sofrendo pelo Sr. Diego Moraes. O mesmo acusa-me, dentre muitas coisas, de plagiador; que roubei diversos parágrafos e desfechos de seus escritos durante longos dez anos com a intenção de inscrev~e-los em concursos literários. Considerando isso como calúnia e difamação, tratei de fazer um boletim de ocorrência onde posteriormente moverei um processo contra ele. Já reuni todos os materiais que possuo e ele vai ter que provar em que momento - ao longo desses quase sete anos de amizade, e não dez como ele diz - eu o plagiei. Confesso aos senhores que ainda não sei qual a razão que o levou a fazer tal acusação, pois eu sempre o incentivei na sua carreira literária, tendo ele publicado seus primeiros escritos na Revista Literária Alternativa Sirrose, o qual agora ele critica ferrenhamente, alcunhando-a de uma Revista cu, alegando que os textos que ele nos enviava eram tratados como lixos, o que não é verdade. Outra acusação grave que ele faz, alega que eu ando difamando pela internet a pessoa do Sr. Tenório Telles e Thiago de Mello, quando na verdade é ele que o faz, como vocês poderão comprovar no blog dele assim que fizerem uma incursão por lá (isso se é que ele já não apagou os comentários maldosos que ele escreveu, por se tratar de um covarde).
Diego Moraes também menciona que eu andei espalhando por aí que as resenhas sobre seu livro "Saltos Ornamentais no Escuro", escrita pela estudante de jornalismo Susi Freitas e pelo escritor Tadeu Sarmento, por se tratarem de resenhas que foram tão bem escritas, tivessem sido feitas por jornalistas da folha de Sã Paulo. O que é uma outra calúnia. O que ocorreu foi unicamente o seguinte: Certa noite no Bar Castelinho, Diego abordou-me eu e Marcos Ney ( e Marcos pode servir de testemunha) para nos mostrar uma resenha de seu livro que foi escrita por Luís Rufato , um escritor respeitadissimo e de origem mineira que escreve em uma pagina cultural da Folha de São Paulo. Dias depois, fui encontrar essa mesma resenha em seu blog e ela tinha sido escrita por Tadeu Sarmento e não por Rufato, pois que ele, Tadeu Sarmento,assinava lá embaixo e nada tinha haver com a Folha de São Paulo. Uma mentira descarada desse moleque. A resenha de Susi Freitas acerca do Saltos Ornamentais no Escuro e de meu livro O Homem com a Abertura na Testa,eu fui encontrar no blog da Susi, o qual deixei um comentário agradecendo pela belíssima resenha, e em momento algum afirmei que a tal resenha tivesse sido escrita por outra pessoa.
Peço a todos vocês desculpas por esse constrangimento criado por esse que eu considero um moleque, e cuja amizade e admiração que eu nutria por ele ao longo de seus quase sete anos em que eu o conheço, e não dez como ele afirma, acabou. Diego Morares ganhou um inimigo e decretou sua morte como escritor.
Quero deixar claro a todos voces que não sou e nunca fui um plagiador. Estou nessa atividade literária há muitos anos; quando comecei a escrever, esse garoto ainda não tinha nem nascido. Quem vem acompanhando meu trabalho sabe muito bem disso, que meus escritos são verdadeiros e que nunca precisei imitar ou roubar idéias de quem quer que fosse. Vou provar que tudo que ele afirmou não passa de uma grane mentira, e ele vai ter que se retratar no seu próprio blog onde ele publicou essa calúnia e difamação.

Agradeço pela atenção de todos.

Márcio Santana.

Manaus, 06 de março de 2010

sexta-feira, 5 de março de 2010

UM SUPERMERCADO NA CALIFORNIA


Cada pensamento tive com voce, Walt Whitman, enquanto
caminhava pelas calçadas sob as árvores com dor-de-cabeça
consciente de mim olhando a lua cheia
Cansado de fome, fa\zendo shopping de imagens fui até o
neon do supermercado de frutas, sonhando com suas
enumerações!
Que pêssegos, que penumbras! Famílias inteiras indo pro
Shopping de noite! Corredores cheios de maridos! Esposas
nps abacates, bebês nos tomates!
e você, Garcia Lorca, o que fazia no meio das melancias?
Eu vi você Walt Whitman, sem filhos,velho safAdo
solitário fuçando as carnes do refrigerador e paquerando
os garotos da seção de verduras
Peguei voce ali fazendo perguntas pra eles: Quem matou as]
costeletas de porco?
Quanto custa a banana? Você é meu anjo? (...)

A lietatura beat foi o que houve de mais genuino e revolucionário na prosa e na poesia americana, os caras romperam mesmo com Stablishment bonitinho, arquétipo e reacionário de uma sociedade patética e cada cada vez mais patológica, e Allen Ginsberg foi sem duvida o seu maior expoente.
Este poema alusório a Whitman é um dos meus preferidos e faz parte do livro "O UÍVO" cuja edição, publicada em 1955, foi proibido sob acusação de literatura obscena e pornográfica, chegando até lembrar um episódio lamentável que ocorreu com a Revista Sirrose aqui em Manaus, mas enfim, este poema é um dos meus preferidos junto com Kadissh, que é uma outra pérola.
A poeta Ivone criou um espaço dedicado a este poeta, quem quiser visitar o espaço é só acessar pelo meu orkut, ok?
abraços