segunda-feira, 15 de março de 2010

PITOCO - PARTE II

"Ei moleque!!" Voz de trovão. Acorda o cão espantado. Expulsa as feridas das moscas. "Parado aí moleque!"" Quer ainda escapar.Um par imenso de mão enlaçando a finura do braço. Como é que escapa?
"Onde mora o Chocolate?"
"Sei de nada não, senhor."
"Sabe sim, velho ali deu o bizú."
"Sei de nada não, senhor."
"Cabo, mostra pra ele o maçarico!!" O Cabo retira do portamalas o instrumento que cospe um fogo azulado. O mesmo com que os canas costumam marcar testiculos de ladrão. Foi o Chocolate que disse. Tinha o dele marcado também. O enfiam as pressas na manduquinha. Ele que nunca tinha andado de carro na vida: azedinho de pitomba na ponta da língua.
"Onde mora o Chocolate, moleque?"
O cana no volante tem uma cara de sapo. Grande e larga. Uma cara de sapo. Repara Pitoco. Ele que não é bicho nem nada, não quer sentir o maçarico que cospe fogo azulado queimando os colhões dele, não. Por isso dá com a língua nos dentes.
"Localizamos o meliante! Na final da Bem-te Vi."
Já chegam fazendo alarde. São muitos os olhos que saltam das órbitas das casas. Pitoco apontando com beiço chororo na direção de um casebre torto que a terra engole de lado. É lá que mora o Chocolate...

Nenhum comentário:

Postar um comentário