sexta-feira, 19 de março de 2010

COMO MORREM OS ESCRITORES EM MANAUS


COMO MORREM OS ESCRITORES EM MANAUS

(Por Marcos Ney para o zinejornal A GASTRITE 2.Edição)

Tatuou o jaraqui no bucho. Vomitou os peixes de papel borrando a boca. O jornal sujado pelo fel e escama mancheteiava o grito: como morrem os escritores em Manaus? Podem cair mil tucanos à direita e mil sapos à esquerda que não cairá uma lágrima dos olhos da Zuele. Quem chorou a morte de Luíz Libertino, assassinado pelo esquecimento lá na Avenida das Torres? Manaus já nasceu póstuma com essa miséria de conhecimento. Um povo tão dócil que está sendo embrutecido pela espinhatez dessa classe média estúpida. O último livro de poemas dessa cidade foi o Obtuário de Tanatos, escrito por mim. Vivemos para rirmos de nós. Um riso transforma o rosto numa flor. Hoje é dia da colheita das rosas cinzas. O mundo médio será o primeiro a ser ceifado. O que tem escrito por atrás das letras escondidas? Por que os imortais morrem? A academia está com suas cátedras vazias. O carpinteiro se aposentou. Depois de escrever á Beça, morre-se de gripe H1N1. A Astride morreu de gastrite. Narciso viveu sua vida pela metade olhando um lobo no espelho. O teatro dessa cidade virou uma árvore sem natal. Teatro abobadado de piscas-piscas piscando a idiotice do povo e a estupidez do governo. Vão se apagar. Somos governados por ladrões de energia. Engrácio morreu de graça sem “Os pingos nos iis.” Quem ouviu o grito do poeta que se jogou da varanda do cais privatizado? O contista em sua obra: O Estatuto do lerdo, exclamou: “A partir de agora o leso deixará de ser abestado!” Os novos escritores da velha Manaus vivem da Sirrose. Olhem em volta de Manaus, milhares de igrejas evangélicas transformando-se no Teatro da periferia, teatro da orgia, da mentira dita de verdades; as galeras, os assassinatos, o tráfico de idéias, a política, a policia rondando ostensivamente em busca de uns trocados, um juiz bêbado no dia do juízo, o gay grávido batendo no marido, a fábrica de clonagem, o ônibus lotado, o estudante sem carteira, o jornal que não consegue ser lido em dez minutos porque não consegue ser escrito em cinco. O único bar de intelectuais anacrônicos é o bar do Armando. A floresta é grande demais pra sumir. Precisamos nos destruir antes que o carbono nos apague. A folha cai da árvore mais alta na perspectiva do chão. Vai caindo, caindo, caindo, esbarrando-se em outras folhas longas, longas, largas, secas, vivas, mortas, vai caindo até alcançar a terra que também cai, não se sabe pra onde. Eu que escrevi o Sindicato dos Inválidos, caio com os que estão caindo. Nos encontramos nas quedas. Editando a Revista Sirrose com Márcio Santana, Max Caracol, Virgilio Simões, Nira Martins, Farrapo, Victor Hugo, Vagner, Jalna Gordiano, Amarildo Maciel, vivenciei a escrita como existência. Criamos mundos, eus, realidades... Alegro-me em ver os livretos do Adriano Furtado (O Desenhista Voador, Fala mas Faz, Formicida, dentre outros...). O zine Ampulheta de Ayub e Sâmila, e agora o zinejornal A Gastrite, editada por Márcio Santana. Morre-se um escritor. Nascem dez. Essa é a chantagem físiofilosófica da miséria baré que nos assola há milhares de tempos. Não precisamos de territórios. O espaço é universal, sem fronteiras. O que importa é o evento. O agora.

Um comentário:

  1. Mad House Underground
    Apresenta:
    De Underground para Subterrâneo
    Com as Bandas

    1-Seaside

    2-Playmobils

    3-The Janes

    4-Kelly`s Roll

    5-Kandrya

    6-Luneta Magica

    7-Veludo Branco Boa Vista-Roraima

    8-Cabocos From Hell

    9-Boca de Velha

    10-Lixo Atomico

    11-...Do Fundo...Abismo

    Dia: 23 de abril Início:21:00
    Entrada 10:00
    Local: Grêmio Recreativo de Educandos –
    Av. Leopoldo Peres n. 770 Educandos
    Ao lado do correio, em frente do colégio Monteiro de Souza, antes do Db.Ônibus 704,712,625,711,713 e 677

    Com a presença de Bulk e Cacau mandando grafite e tattoo ao vivo
    Participação da Revista Sirrose,
    Gastrite fan zine e Ampulheta fan zine na teia poética.
    Participação especial do Dj. Helio Max
    Com psicodelia rock. Black music,rap
    e muita pancadaria Sonora
    APOIO ZE DAS FLORES E SINTESE SKATE SHOP

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