segunda-feira, 15 de março de 2010

PITOCO - PARTE III


não tivesse sido o maçarico que cospe fogo azulado, não tinha entregado o Chocolate, não. Nem com nojo. Pancadas fortes na porta. A casa cercadinha. Zefa Parideira é quem vai atender. Um talo de rosto sofrido no vão da porta. Quem nunca a viu, não lhe dá vinte anos. Ficou velha de parir. É o que dizem os olhos e as bocas.

"Cade o Chocolate?"
"Não mora mais aqui não, Esmeraldino."
"Mora sim que sabemos!" Adentram à força o velho barraco. Malandro arisco, Esmeraldino. O alcançam pulando a janela. Camiseta no ombro; sandália de dedo no pé. O arrastam para a rua. Sob a aderencia do sol, nuca grossa de guariba, empapada de suor. Não carece ver o rosto não. Pra que? Ladrão não tem rosto mesmo. Ahh, bandido, dessa feita não tem jogo não, reina o Cabo Mariano.A boca salivando de ódio. A manduquinha sacoleja pros lados com os bofetões do soldado. A tudo espia da porta, Zefa Parideira. Sua pele é negra e surda. Pariu quinze, sim senhor. Todos nascidos tortos de banda pro crime. Com exceção do caçula que ainda tinha conserto, mas a cobra engoliu. Vê agora calada, a ultima cria, o efetivo levar. Este não volta nunca mais. Pretume no peito de mãe. A bocarra detras se fecha. Não tivesse sido o maçarico que cospe fogo azulado, não tinha entregado o amigo mesmo não. Nem com nojo!
Atravessa correndo a ruazinha até onde finda o asfalto. Volta pra casa, moleque! Grita á janela o Cabo Mariano. Aí entçao ele pára. Depressinha, elas já se vão longe, subindo a Rio Alto; sumindo, sumindo na poeira do asfalto...
Domingo. Calor de doido mesmo. Pitoco cobre os olhos com o braço. Nesga de nuvem pedindo clemencia ao sol.

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