quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

KEROUAC - O VIAJANTE SOLITÁRIO


(...) "ASSIM, AQUI ESTOU EU AO ROMPER DO DIA EM MINHA CELA SOMBRIA, faltando 2 1/2 horas para enfiar o relógio de ferroviário no bolso dos meus jeans e cair fora..."
terminei de ler esta manhã o "Viajante Solitário" do Jack Kerouac. meu livro de cabeceira desde que mudei-me para cá. o devorei em três dias. um livro delicado, humano e generoso. ahh, queria ser Jack Kerouac. ter sua coragem e sua espontaneidade no trato com as palavras. ter esse sopro, essa tragédia doce da vida. mas Kerouac foi um viajante de estradas. sem pátria. um vagabundo iluminado das estradas abertas e perdidas da vida. um vagabundo em extinção. u eu ainda estou ancorado no meu cais de pedra. imóvel. transparente. emfim. li quase todas as suas obras e sempre quando algo novo seu vem á tona, trato logo de inteirar-me do assunto. como é o caso de uma peça que foi publicada recentemente numa versão espanhol junto com uma nova edição de Junkie, do Burroughs. a peça, como não poderia deixar de ser, é também autobiográfica. aliás, toda sua obra, desde a poesia, até a prosa e teatro, são triunfos autobiográficos. história de uma geração. sua escrita pessoal centrada numa busca pela verdade e pela iluminação, é contagiante e inspiradora. essa força espiritual que se dá através de sua escrita, atinge o universal, o que faz dele um grande escritor, o melhor, ao lado de Jack London e de Fante. e aqui me refiro apenas á literatura americana.
"Visões of Cody", que é um tijolão, é um livro que até hoje não consigo largar. parece que cada vez volto á leitura daquelas páginas surrealistas, mas me deparo com algo novo e deslumbrante a ser revelado, talvez por ser o livro mais experimental - depois de O LIVRO DOS SONHOS. Visões of Cody é outro livro desse autor que recomendo aos meus amigos. A obra chega a superar - e essa é minha opinião particular - o então clássico ON THE ROAD, o mesmo que o colocou no panteão dos imortais da literatura americana, mas que por outro lado, foi um livro considerado injustiçado por ter sofrido várias amputações, para que ele fosse publicado. tive o privilégio alguns anos atrás de ler na internet um trecho de um dos rascunhos originais de On the Road, E CARA, é de uma fruição verborragica visceral impressionante. Lembra "Finnergan Awake" o o próprio "Ulisses" do James Joyce, no sentido da descontrução e do experimentalismo linear da narrativa; uma espécie de reminescencias proustianas com fortes doses de alcool e mescalina.
o "Viajante Solitário" é um livro que trata de um tema aparentemente comum: viagens. viagens que percorrem o sul dos Estados Unidos de costa a costa, atravesando todo o México, chegando até Marrocos, Paris e Londres, abordo de navios e trens de carga (Kerouac foi lavador de pratos de navios, limpador de convés de cargueiros, empregado de posto de gasolina, vigia florestal e também jornalista)A sua viagem não é uma viagem commum. Trata-se de uma viagem pelos meandros da vida em busca da verdade ou de um sentido universal. o propósito do livro como ele próprio afirma, é simplesmente poesia, ou meramente uma descrição natural da vida.
a literatura de Kerouac é uma literatura essencial e obrigatória para a geração presente.

(...) não há nada mais nobre do que aturar algumas inconveniências como cobras e poeira por amor á liberdade absoluta. Eu próprio fui um vagabundo, mas só até certo ponto, como se vê, porque sabia que algum dia meus esforços literários seriam recompensados com a proteção social - não fui um vagabundo autêntico, sem esperanças, exceto aquela eterna esperança secreta que se adquire dormindo em vagões vazios que atravessam o vale de Salinas sob o sol quente de janeiro cheio de Dourada Eternidade...

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