quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

V - GRANSCY FAZ AMOR COM A ANÃ NA CÚPULA GEODÉSICA DO POLÍGONO g.



Advertência: Capítulo desaconselhável às mães.

Não me perguntem como, mas a astúcia da anã aliada ao imenso desejo de possuir Granscy a levou burlar a segurança do Polígono g, colocando em risco tanto a sua vida como a do nosso herói. Mas eis que enfim, ali estavam eles.
A torre era alta demais, de modo que nenhum olho humano conseguia ver lá debaixo o seu cume que desaparecia no firmamento tragado pelas densas nuvens de clorozyl. A torre tinha lá a sua história. Foi construída a custa de muito suor e sangue dos anões, mas que ao longo do tempo souberam relevar o fato e hoje sua construção é motivo de orgulho para todos eles. Prova maior dessa estranha veneração era o belo canteiro em volta da torre que os próprios anões construíram e que a cada 01 de maio de cada ano, depositam girassóis em razão de seu aniversário.
Outro aspecto interessante e que também envolvia a torre, constituindo-se, portanto, um grande enigma, era o objetivo de sua construção. Ninguém sabia ao certo explicar o porque e o pra quê de sua existência. Várias correntes teóricas foram levantadas, dentre elas, duas das mais interessantes e engraçadas são sem dúvida dos Mulocs e a dos Glumps-Glumps. Os Mulocs, por exemplo, acreditavam piamente que a torre fora construída para que a espécie humana se aproximasse de Deusnada, o que para eles era uma grande blasfêmia. Já os Glumps-Glumps, talvez para sacanear os Mulocs ou porque eram ingênuos ou burros mesmos, diziam que a torre fora construída para salvar a todos da grande maré profetizada. A verdade é que ela mantinha-se ali, firme, ereta, como um falo imponente com medo de ficar impotente, resistindo bravamente às intempéries do tempo e as especulações do homem moderno.
Para se escalar os incontáveis andares da torre e atingir sua cúpula geodésica, portanto, só era possível através da bolha panorâmica acrilizada puxada por grossos cabos de juta fibrosa. A anã acionou o dispositivo e a bolha pôs-se em movimento subindo bem lentamente. A medida em que a bolha subia Granscy via com os olhos marejados a cidade miniaturizar-se lá embaixo. As chaminés dos módulos-fábricas, em formas de narinas dilatadas, apontadas para o céu, funcionavam á todo vapor expelindo fumaças de clorozyl desenhando no ar espectros diabólicos de mães a confabularem entre si. A anã inclinou-se um pouco baixando com a boca o zíper da calça folgada de Granscy:
– Quê cê tá fazendo? – Perguntou ele, surpreso.
– Relaxa... – Um sorriso maroteou-lhe o rosto.
– Bem que me disseram que os anões são vulgares.
– Tisc-tisc-tisc-tisc-tisc-tisc... não senhor. Somos apenas seletivas. – Retrucou ela com o membro rijo de Granscy tufando-lhe a lateral da boca. Um dos espectros de mães horrorizou-se:
– Pois veja! Ela está chupando ele! Que horror!
– Mas ele não gostava não era de tubos vasculares? – Indagou um segundo espectro em espiral.
– Que eu saiba, meu filho sempre apreciou as ostras. – Interviu um outro.
– Mãe? – Granscy a reconheceu pela verruga na ponta do nariz. – É que ele está nervoso, coitado. É a primeira vez dele com uma anjã, e nós que somos mães, convenhamos, não é nada fácil para um filho copular com uma anã, ainda mais com talydomida.
– Um pederastazinho, isso sim. Nunca me enganou esse rapaz. – Tornou o segundo espectro.
– Os filhos sempre esconderam de suas mães os instintos mais abissais da carne. – Contornou o primeiro.
– Por isso sofrem seus desígnios. – Atalhou o segundo.
– Não é o caso de Granscy, por certo. O cerne de sua formação sempre foi religiosa. Enterrei minha vida toda para criá-lo; para vê-lo crescer. Tornar-se homem. Não vamos culpar as curvas do tempo que delineiam as nossas vidas, pois que o próprio tempo tem suas retas a que todos nós devemos retomar. As mães passam, mas os úteros ficam. É a mais pura verdade. – Dito isso, os espectros fundiram-se num único e denso vapor de clorozyl assemelhando-se a um imenso útero de Hiroshima. De olhos esbugalhados ante a pantomima dantesca daqueles fantasmas maternos, Granscy por um instante cogitou ainda estar sob o efeito de Hidrofyl. Foi preciso uma leve mordidela na cabeça de seu pênis para colocá-lo ciente de que tudo aquilo era verossímil, como também para alertá-lo que haviam chegado à cúpula.
A anã tomou Granscy pelo pênis e o conduziu para dentro da cúpula. Ele sentia o corpo congelar e respirava com dificuldades. Ela nem tanto, pois que parecia acostumada à pressão. Uma vez lá dentro, as luzes foram acessas e os pressurizadores todos ligados. Granscy não contava mesmo com o esplendor do lugar, a começar pelas altas colunas de marfim e bronze em cuja pureza geométrica ostentavam em seus cumes, címbalos e harpas com cabeças humanas oriundas do Gabão.
– Vem, filho, vem! – A anã despia-se com desespero. Ele com os olhos calmos e maravilhados de um De la Croix, passeava a vista pelo teto abobadado da cúpula, toda ela ornada de afrescos primitivos; pinturas protagonizando povos chegando de hemisférios distantes, faunas variadas de estranhos antílopes, zebus e serpentes do estreito de BauhausS.
– Vem, querido! A arte espera.
Crocodilos alados e aves gigantes do extinto Congo, como também Dromedários e Guarás das dobraduras de Gaza.
– Cuida, querido!
Tribos inteiras de Pigmeus do vale do Nniger e Vanwatus´s evoluindo num éden exótico e perturbador.
– Benhêêê...
Qabalahs diversas, símbolos criptográficos e estrelas que nasciam e morriam no fim de espirais cósmicas. Tudo numa profusão de cores de força e alma intemporal. Jurar-se-ia poder ouvir os tambores primitivos rufando das entranhas daqueles desenhos vindos do céu.
– Vem, amor! Estou pronta.
Moveu o olhar para a anã que de quatro, no chão, chamava por ele. Despiu-se e foi ao encontro daquela pequena massa de mulher, puxando-a em seguida para perto de si, iniciando o que seria um Kamawhee.*1 Experimentariam todas as posições inimagináveis do reino de Vatyssuana. Alegres atabaques soavam hipnóticos na mente de Granscy. O ritmo acelerava á medida em que ele também acelerava as estocadas. Estocadas que por vezes arrancavam da anã, gritos lancinantes de dor e prazer.
– Mais fundo, bebê! Mais fundo! mais fundo! mais fundo!
Rolou por sobre ele sugerindo uma Hipotenusa seguida de um Pa de Deux. Parecia gostar daquelas posições, pois que gozava à cântaros. Sabedor de seu inevitável priapismo, Granscy obedecia mantendo-a firme, no encaixe. Após o derradeiro coito, os dois amantes ainda permaneceram acoplados por horas a fio, como dois estranhos batráquios. Pareciam perfeitamente sincronizados.
Os tambores, enfim, cessaram de rugir.

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