quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

HYLDA


I - O CHAMADO


O CHAMADO ACONTECEU AS CINCO EM PONTO daquela manhã de maio arrancando-o de um sono doce e profundo. Viu tudo girando a sua volta; uma ânsia de vômito descia e subia-lhe à garganta. Vomitaria lodomusgo com toda certeza. E tudo por causa do Dash. Ou seria por causa de Rosa? A verdade é que vinha abusando do Dash desde a partida de Rosa para o Zaire. Agora já não havia mais volta.
O telefone seguiu tocando. Ergueu-se da cama e atendeu às cegas o aparelho. Seus movimentos eram lentos e holográficos:
– Siiiimmmm...? – A voz arrastada de um disco em rotação contrária. Era estranho.
- Mas que raios! Por onde andavas? Em que pé está o caso do pasteleiro? Já leu os jornais?
Granscy sacudiu a cabeça, confuso.
– Quem tá falando?
– Quem tá falando? Sabe muito bem quem tá falando. Quero que dê um basta nisso! Dou-lhe um dia.
– Mas... o que eu devo fazer?
– Procure por Hylda na cidade dos anões. Ela tem as informações. Ah, sim, evite os Mulocs e tome muito cuidado com os Glumps-Glumps, eles estão por toda parte. Outra coisa: não esqueça que a cidade mudou, o Grande Pássaro ascendeu e que os anões são vulgares. Tenha um bom dia. Adeus!
E desligou.
Granscy sentou-se atordoado à beira da cama. Uma luz rala e triste penumbrava o pequeno quarto. Alguém finalmente conseguiu metê-lo numa grande encrenca. Talvez tenha sido o homem da cicatriz. Seja lá quem for, pouco importava agora, o que ele precisava mesmo era esquecer o livro e retomar o caso, pondo fim aquilo tudo. Deu uma golfada de lodomusgo sujando as paredes bizantinas do quarto. Banhou-se e saiu para as ruas.

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