quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

VI - APÓS O COITO COM A ANÀ GRANSCY DECIDE PÔR FIM A SUA BUSCA E RESOLVE VOLTAR PARA CASA, SEM ANTES SER INTERPELADO PELO HOMEM DA CICATRIZ



Deitado ao lado da anã, Granscy tentava a todo custo entender aqueles símbolos pictográficos no teto da cúpula:
–O que representam afinal, todos estes símbolos?
Ela aproveitou para descolar o ultimo Flywin dele. Logo a sala impregnou-se de vapor barato.
–São os muitos circuitos da consciência humana, manejada pelo Deus da sabedoria e artes mecânicas. – Respondeu.
–E todos aqueles animais?
–São os ancestrais da alma. – Granscy coçou o queixo alongado.
–A arte é mesmo um combate... – Sussurrou. A anã olhou pra ele surpresa.
–Quem lhe disse isso?
–Um impressionista. – Reinou um breve silêncio.
–O que fazia antes de se meter nessa confusão toda? – Quis saber ela.
–Escrevia um livro.
–Um livro?
–Sim, um livro.
–E o que aconteceu?
–Rosa, a companheira, descobriu e me abandonou. Não suportando a perda, me rebelei mergulhando de corpo e alma no Dash. Um dia, abusei demais e quando acordei me achei nessa curvatura.
–Acha que encontrando a tal Hylda, seu sofrimento estará resolvido?
–Uma boa parte dele, creio que sim.
–Um homem nunca é feito de partes. Somos a projeção de um todo.
–Mas as partes não fazem um todo?
–Não quando elas são distorcidas. Uma questão bifocal da alma. Da consciência da alma.
–Mas e a razão?
–Não descarto aqui a razão, que também é bifocal.
–Razão e alma bifocais?
–Sim.
–E a verdade?
–Impura.
–E os instintos?
–Verdadeiros, pois que são meras trocas de interesses.
Granscy tornou a coçar o queixo longo.
–Você é Hylda, não é?
–Já disse que não.
–Como se chama então?
–Íris.
–E Hylda? Quem é Hylda?
A anã que se chamava Íris atirou com elegância o toco de cigarro para o alto.
–O que vai fazer quando sair daqui?
–Já nem sei mais.
–Se resolveres voltar para casa, e por alguma razão atravessares a Experimental-Quantum, vai descobrir tudo.
Granscy vestiu-se apressado. Íris olhava para ele como uma garotinha chorosa.
–A Experimental-Quantum ainda é uma nebulosa. Um risco a que todos nós corremos.
–Que seja, mas eu preciso voltar.
–Voltar para onde?
–Para casa. Hylda não existe e tudo isso aqui é uma porra onírica. Tenho mais o que fazer.
–Então me beije e vá!

Granscy beijou Íris e partiu.

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