terça-feira, 11 de janeiro de 2011

parte II - putas são girassóis girando dentro de nossa amargura de muletas

R

ua Mauá. Ou beco Mauá. Ou viela Mauá. Ou então Avenida Mauá. Quem se importa? Certas vias públicas fazem-me lembrar um grande reto cancerígeno expelindo cotidianamente sua larva de pus e seres microbiantes. Mauá é um exemplo disso: uma pequena artéria escondidinha no reto sujo de minha cidade. E caminhar sobre ela a qualquer hora do dia ou da noite, é caminhar sobre o dorso de uma mariposa que se debate, que agoniza, mas que teimosamente ainda expele seu veneno: o veneno do tempo da morte. Ela segue apressada. Não a morte. Calma. A prostitutazinha. Eu não tenho pressa. Já disse que nao tenho? Seguir ou não é uma questão de escolha. Nada na vida é uma imposição do destino. Tudo é uma escolha. A escolha está entre o bem e o mal. Entre a raiz e o nervo. Entre o sujo e o limpo. Entre a vida e a morte. Escolhe-se morrer e não nascer. A morte é ajustável. A vida, uma forma egoísta de adequação. O que buscamos no fundo é uma forma egoísta de se adequar e nada mais. Olho agora minhas mãos no escuro. Veias saltam das costas das minhas mãos. Esgotos gorgolejam. Sombras monstruosas de ratos escapelados correm para as galerias. Odores fétidos desprendem-se das paredes do tempo. E o tempo é este VELHO que me olha passar e se masturba. "Vem ou não vem?" A voz dela interrompe-me estes meus pensamentos que nunca vão se completar. Sou uma ponte sobre este abismo que não se completa jamais.

"Não sinto firmeza onde estou."Digo a ela quando lá chegamos.

do conto: "SUADOURO"

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