quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

I - PARTE - O UNIVERSO É UM GRANDE MOEDOR DE CARNE NA FASE INDIGESTA DE DEUS.

Ahh, as putas, não dou muita sorte comn elas não, e as minhas noites vadiamente sujas estão se tornando cada vez mais amargas...
Desço levemente trôpego a Lobo D'Almada em direção á Praça da Matriz. Ainda é uma da manhã e a noite amordaçada pelo silêncio é entrecortada apenas pelos TOKS TOKS surdos-secos dos saltos altos dos travecos que fazem ponto pelas esquinas, acordando da vida, a morte.
A lua é roxa. Macilenta. Doce-fria. Defunta sonhos. Penso acidentalmente na frase de Spinosa: "O homem é seu destino." Sim. E tudo neste homem são verdades e mentiras. Verdade e mentira caminham juntas. São juntas de uma mesma mão. Não pode existir a verdade sem a mentira. Uma é premissa da outra e viceversa. O universo é um grande moedor de carne na fase indigesta de Deus. Estamos dentro do grande moedor de carne que moe moe e moe os intestinos do homem, a mentgira da carne, a verdade do espírito. Verdade e mentira caminham juntas. São juntas de uma mesma mão. O homem é seu próprio destino.
Vou filosofando essas coisas estranhas enquanto acerto meus passos levetrôpegos em direção ao anfiteatro da morte. Vou abraçá-la. Ouvir o estalido de seus ossos. Olhar sua cárie. Comer seu câncer. Um traveco se aproxima e me diz com voz sedutora: "vamos faqzer um programinha, amor?" O traveco é bastante alto e o seu queixo é pontiagudo como as lâminas de seusn saltos. Faço um gesto negativo e amigável com a mão e sigo em frente. Alguns deles se valem de sua altura e massa muscular para roubar os transeuntes feridos, mas este não me causa mal algum. Mas é preciso ter sempre cuidado: controlar o pau que causa a ereção da alma.
Ao final da rua dobro a direita e sigo fazendo o contorno pela XV de novembro. E é exatamente ali, escorada ao muro da Biblioteca Arthur Reis, bem na entrada do Suadouro - na então conhecida Itamaracá - que uma puta em completo desmazelo da vida, me chama bastante atenção. A tipa fuma sossegadamente um cigarro e seus olhos são pequenos e brilhantes como as de uma tarântula. Endireito meus passos e vou ao seu encontro. É um pouco mais baixa e graciosa. Quase um milagre. Baixa ou alta. Bonita ou feia. Suja ou limpa. Gorda ou tísica. Branca ou negra, a esta altura já sinto o mecanismo da solidão corroendo por dentro. Putas são girassóis girando dentro de nossa amargura de muletas. Trato de anotar esta frase que me vem á cabeça: Putas são girassóis girando dentro de nossa amargura de muletas...
"O que faz por aqui uma hora dessas, bebê?" Pergunta ela.
"Estou atrás do amor de uma puta." Falo desse modo porque já me encontro bêbado e mais gaiato. Ela desgruda-se da parede rugosa do prédio e me examina dosm pés á cabeça com a sedução nos olhos, orgasmo nos lábios e a falta de respeito que só as putas sabem demonstrar. Olho bem pra ela que parece ter saído de um quadro machucado da vida. A vida é um mosaico de pancadas. Mas uma frase que me risca a mente e que também trato logo de anotar em meu bloquinho. Olha aquilo curiosa e pergunta:
"Você é pesquisador?"
"Pode ser. Logo ali tem um bar. Pago-lhe uma dose de conhaque."
"Não bebo conhaque."
"Uma cerveja então."
Comncorda e vamos ao bar que fica na esquina da XV com a Mauá.

C

conto: SUADOURO

2 comentários:

  1. Cara, és uma alma do mal do século (XIX) que reencarnou em Manaus e sabe, através de palavras, materializar a umidade das ruas e noites desta cidade.

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  2. é um conto da primeira fase dos meus escritos, um escrito turbeculoso, bem Alvares de Azevedo mesmo, embora eu tenha lido pouca coisa sua. Mas acho que Manaus tem essa coisa meio que tuberculosa e romantica. Finge-se de morta para depois nos emgolir... cruzcredo!!

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