domingo, 10 de julho de 2011

A DIALÉTICA DA ALMA IV

Você toma algumas aspirinas logo pela manhã e senta em frente do seu computador, Você precisa atualizar seu blog, terminar aquele conto, abrir seus e-mails, viajar, descansar, engravidar, Você está se sentindo muito vazio, Você é o vazio de si mesmo, Você ontem teve uma noite agradável na companhia daquele seu amigo que aprecia o que você escreve, que prefaciou o seu próximo livro de contos, ele o considera um escritor impressionista-realista, "É possível sentir o cheiro, a textura dos teus contos", ele sempre lhe diz isso de cara limpa, seum um gole de álcool na alma, Você então sente que ele fala a verdade, que está sendo sincero e você fica embevecido, TODO TOLO POR DENTRO, Ele acredita nos seus escritos, mas você ás vezes parece que não, parece que não acredita em você, Você foge de você mesmo, quando é que você vai mostrar a sua verdadeira cara, se livrar de vez dessa máscara falsa e covarde, Não há nenhuma mensagem em seu e-mail, nem um recadinho de Clarice, ninguém, também não há postagem nenhuma em seu blog, nem um texto interessante para a revista que você inventou, Sua cabeça dói um pouco, está de ressaquinha meu caro, Você agora tenta se concentrar no conto, mas não consegue, as teclas estão travadas, você tá travado, sua vida travou, mas ainda acho que você está fazendo charme, marketing de escritor, Tudo que tem a fazer é debulhar as palavras, é um domingo eu sei, e os domingos são como facas amoladas, Você está se saindo bem no trabalho, na sua velha função de professor, tem cumprido as goras direitinho, enrolado menos, isso é um motivo de orgulho pra você, você tem agora uma profissão, não é mais aquele vagabundo iluminado, as notinhas caiiinnndo, hein? hein? Esquece um pouco o conto, não adianta ficar así sentado com tua alma expirando dentro desse teu corpo, dentro desse quarto porque não vais conseguir espremer nada, só não esqueça de uma coisa, você é um herói escrevendo nessa cidade sonolenta, feia, tola e retrógrada, por isso que adoro essa tua teimosia,
que a poronga nunca se apague dos teus olhos...

Um comentário:

  1. Tu escreve tua cidade, e a agonia desse vazio que é uma cidade. É isso que eu gosto. Essa teimosa crença de que está tudo perdido, mas que o jogo pode virar a qualquer instante... o dado rolando.........

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