terça-feira, 19 de julho de 2011

CALDO QUENTE OU O CAPÍTULO DAS TRANSCRIÇÕES - III

LORD LENDO. os anos não me furtaram a esperança de tomar o amor como uma coca-cola...
NEGRO. eu pensei muito quando casei, saca? eu pensei muito muito muito muito muito muiiito cara, eu queria ter um filho que pudesse voar, eu queria ter um filho que ultrapassasse os limites desse mundo tão caduco, tão tão tão, decadente, éééé... então eu a contemplar a figura da Clara no ventre de Clisse, eu me vi em Yuri Gagari, o cara que foi pro espaço, que saiu dessa terra poluída e vulgar, saca, e ao retornar de lá, o seu filho pediu: “pai eu queria dinheiro para comprar um pão porque este mundo ainda é pobre e eu estou com fome.” então eu pensava com Clisse, minha esposa, na possibilidade de ter uma filha livre e resolvemos encarar, e quando eu afirmo isso aí estou dizendo que Clara é um projeto perfeito de um mundo perfeito, quando eu, eu, eu imagino, quando eu, eu, eu, eu vejo minha filha sorrindo é porque ela tá bem alimentada, porque ela tá com os medicamentos em dia, e quando eu penso de colocar a Clara em evidencia na minha poesia eu sempre penso, ela não é do mundo que vivo, que comtemplou guerras santas como guerras econômicas e que no fundo as guerras santas sempre foram guerras econômicas e sempre serão...
LORD. e O Cais?
NEGRO. O Cais é a revelação do caboco. caboco que contempla o seu dominador e que tem por ele um amor muito grande porque o caboco no fundo no fundo adora o seu dominador, na verdade, saca, o caboco quer ser um dominador pra dominar outro caboco...
LORD. essa parte aqui do final, né: os turistas revelam em suas máquinas fotográficas um mico leão dourado da foto que bateram do caboco...
NEGRO. é justamente aquilo que falei, Burguês, o caboco é tão, é tão, é tão besta, e eu sou caboco e logo sou besta também e que portanto tenho uma admiração total por aqueles que me sacanearam, e que hoje eles nos tem como algo que está em extinção só que ninguém quer ser chamado de caboco, cara, quer ofender alguém chama esse cara de caboco, tá em extinção o caboco.
(barulho da chuva lá fora. o Negro acendendo um baseadão.)
NEGRO. cê preste bem muita atenção em dizer que, ao escurecer manaustérico terá chuva no dia em que as nuvens negras se abrem pra você e se mostram ocular, você se torna... naturalista, né? às vezes eu tenho até uma puta de uma ideia que vai salvaguardar o universo e quando eu revelo pra alguém isso, é um é um é um... sonhador elas dizem. algumas coisas que eu contemplo, tipo, é, uma CACHOEIRA DE FLORES e eu amo esta visão glorificada... mas cê vai fazer outro livro em cima do material que tá colhendo?
LORD. não, euuuu...outro livro?
NEGRO. não tá parecendo uma orelha, tá parecendo outro livro...
LORD. eu vou, eu vou, livrotificar, é isso...
NEGRO. livrotificar?
LORD. eu falei livrotificar?
NEGRO. você falou livrotificar.
LORD. talvez eu quisesse dizer outra coisa, tipo, liquidificar, é isso...
NEGRO. gostei mais do livrotificar...
LORD. então fica, livrotificar, acho que neologizei.
NEGRO. é, você neologiza tudo, é o que mais gosto em você, Burguês...
LORD. é, eu neologizei a coisa.
NEGRO. no fundo é um barato morder o nariz da palavra.
LORD. então vamos aos fatos porque não temos certeza de nada.
NEGRO. brrppp
LORD. dia desses queimei meus lábios numa erva assim...
NEGRO. afffffff
LORD. essa porra vai subindo vai subindo vai subindo pra cabeça e aí cê já viu.
NEGRO. tu fumaste um freebase, caralho...
LORD. não tenho certeza agora, mas sei que vi tudo troncho, mas depois vieram as flores descendo num arco-íris, foi um baratolegal.
NEGRO DANDO UM PEGA. a única certeza do poeta é que a tua certidão amanhã vai ser outro dia e quando o outro dia não acontece, aí mermão, vem a desilusão, o desamor, aí dá uma vontade de morrer quando cê tá afim de falar alguma coisa que é muito produtiva mas que não é ouvida, vem a morte e te leva como levou meus poetas amáveis porque você quer dizer as coisas e não tem espaço, aí você chegou na celulamater que é este o propósito do Branco que é ser ouvido, apreciado num quero, porque o que é ouvido nem sempre é o apreciável, o que eu quero dizer com o Branco é que, chega de ouvir tanta lezeira, quero falar do caboco mas não daquele caboco sonhador que o Raízes sempre canta (Negro cantarolando em banto, a cançãozinha) “sou um caboco sonhador meu senhor, viu?” não é esse caboco que eu canto não, sou alguém que sonha com o caboco voando mermão, um caboco que tenha um carro do ano, mermão, é o socialismo por cima e não o socialismo por baixo, ele é político, partidário o Branquinho, e tá lá, cara, na última parte do livro tá lá, onde eu chamo o caboco de TRAPEZISTA, trapezista não, eu chamo de MALABARISTA.
LORD. dorme a noite com mil lençóis de nuvens brancas, com mil clarões de estrelas reluzentes, com mil cantos de galo, com mil madrugadas frias...

Nenhum comentário:

Postar um comentário