quarta-feira, 13 de abril de 2011

PARTE V - JESUÍNO AGORA ARDE NAS PROFUNDEZAS DO INFERNO

Caminhamos até um bar a céu aberto e sentamos numa mesa dos fundos pra conversar um pouco. Olhamos um para o outro e assim ficamos por um bom tempo em eilencio. Um silencio triste. Engelhado pelo tempo. Muitos anos separavam a gente da tragédia que acabou com as nossas vidas. Ela havia envelhecido brutalmente, e daquela moça faceira e cheia de vida, quase nada restava. Conceição ainda tentou esconder que estava doente, mas nem precisava, pois sua aparência não me deixava dúvidas.
"E Jesuíno? que fim levou o desgraçado?" Perguntei a Conceição mesmo sabendo que não era uma hora boa para aquela conversa. Ela acendeu um cigarro, deu uma tragada e começou a tossir. Tossiu bastante. Trinta e duas vezes, eu contei. Foi então que pude notar que seus olhos que antes eram castanhos-claros e cheios de luz, agora nada mais eram que duas poças transbordando em sangue a denunciar a doença que tomava conta dela por inteira.
"Jesuíno agora arde nas profundezas do inferno, de onde nunca deveria ter saído." Respondeu minha irmã, dando uma cusparada vermelha. Nos abraçamos e começamos a chorar. Ficamos abraçados assim até que ela foi acometida de novo de um ataque de tosse e se afastou como uma sombra triste. Quando voltou, me disse:
"Aquele maldito está morto, mas me levou com ele." Comentou entre lágrimas. Esperei que se acalmasse. Acendi um cigarro e ofereci a ela. Sua mãos tremidas, mal conseguiam segurar o cigarro. NÃO! Aquela, seu Paulo, não era minha irmã. Defitivamente a alegre Conceição de minhas lembranças não podia ter se transformado naquele trapo, naquela... ahh, como me odiei por não ter encontrado ela antes. Me odiei ainda por não ter eu mesmo matado aquele desgraçado..."
Algemiro bateu várias vezes com as mãos na cabeça como que transtornado pelo ódio armazenado durante anos dentro de seu peito. Depois, fitou-me como se fosse descarregar sobre mim, toda sua ira reprimida. Em seguida, olhou para o alto, levou as mãos postas até á boca, respirou fundo e falou num sussurro:
"Me desculpe, seu Paulo!"
"Tudo bem, cabra. Desabafa! Vai te sentir melhor." E ele então continuou:
"Conceição com muito esforço conseguiu me contar toda sua vida desde aquela noite até o nosso encontro..."

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