segunda-feira, 18 de abril de 2011

JESUÍNO MARABÁ - FINAL

"Conceição teve um novo acesso de tosse e dessa vez não conseguiu me dizer mais nada..."
"E onde ela está agora?" Perguntei a Algemiro. "Como ela não tivesse para aonde ir, pois que o fogaréu se espalhou, engolindo o barraco todo, ficando ela sen teto portanto, então eu a levei para minha casa. Nunca mais voltou a falar, Morreu poucos dias depois. Voltei então para Rio do Sol. Na viagem de volta, conheci Leonor que estava vindo para enterrar o pai. Criou-se entre nós um forte laço que dura até hoje. E esta é a história da minha vida vida, seu Paulo. Não é uma história bonita de se ouvir..."
Ainda chovia. Mais bem pouco. Olhei para a garrafa de cachaça vazia sobre o chão de barro batido. Contemplei por um instante a chuva fina que continuava a cair e então eu disse:
"É, amigo, mas a vida continua, não é mesmo?" Foi tudo o que eu covardemente pude dizer aquele homem. Leonorm veio juntar-se a nós. Nela, Algemiro finalmente encontrara amor, compreensão, afeto, calor humano, enfim, a paz verdadeira cuja existencia os anos de sofrimento o fizeram duvidar que existissem. Ao menois aquele desabafo servira para Algemiro exorcizar todos os fantasmas do seu passado.
Pegou Leonor cintura e puseram-se a dançar no terreiro. Foi a primeira e última vez que o vi assim: feliz, sorrindo e até dançando, antes de eu vir morar definitivamente em Manaus e nunca mais saber notícias suas.

(do livro Doze Contos Amazônicos, publicado em 1999)

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