sexta-feira, 15 de abril de 2011

JESUÍNO MARABÁ - PARTE VI

QUERIA MINHA LIBERDADE E NÃO TINHA OUTRO JEITO A NÃO SER MATAR JESUÍNO

Jesuíno me obrigou a acompanhar ele. Me trouxe para cá e aqui me fez de puta. Se tornou meu cafetão. Passei a sustentar ele e quando eu chegava em casa sem dinheiro, ele me espancava. O desgraçado batia em mim por qualquer motivo. Fugi dele muitas vezes, mas sem muita sorte. Aonde quer que eu me escondesse, ele me achava e aí todo aquele inferno se repetia. Não aguentava mais. Estava cansada, doente e cada vez mais ficava difícil conseguir um freguês. Por tudo isso tomei uma decisão: naquela noite o dinheiro que arranjasse seria pra comprar uma passagem e sumir dali pra bem longe dele. Longe o bastante para que ele jamais pudesse me encontrar. Dei sorte logo ao chegar no Natureza. Um homem velho e gordo me chamou para a mesa dele. Bebemos, conversamos, nos divertimos um bocado. Lá pelas tantas fomos para o quarto. O sujeito mal conseguia se manter em pé de tão bêbado que estava. Mas tinha que aturar ele, pois que em sua carteira estava o dinheiro que compraria minha liberdade. Aí então entramos no quarto, e logo ele se atirou de braços na cama que tombou com seu peso. Peguei ele pelo meio e sacudi ele várias vezes. Nada. O infeliz tinha mesmo apagado de vez. De pronto, retirei da carteira dele todo o seu dinheiro. Fiquei espantada comigo mesma, pois que não senti nem um pingo de remorso ou arrependimento em fazer aquilo. É,meu irmão, a vida acaba ensinando a gente a não ter respeito ou escrúpulo por ninguém. Naquele momento eu só pensava em mim. Estava preocupada apenas em fugir daquele inferno. Coloquei todo o dinheiro na minha bolsa e saí fora dali. Fui direto pra casa. Jesuíno ainda não havia chegado. Como de costume ele só deveria voltar da farra pela manhã. Enquanto arrumava numa valise minhas roupas, sentei na cama e comecei a sonhar acordada. Já até me via em outros lugares, andando livre, sorrindo; vivendo outra vida. Uma vida mais decente. Sem medo, sem remorsos, sem ódio, sem culpas. De repente, fortes batidas na porta apagaram da minha mente todo aquele sonho e me trouxeram de volta pra realidade. E a realidade era brutal, desumana e tinha um nome: Jesuíno Marabá. É, só podia ser ele, e pelas pancadas na porta, estava muito bêbado. Pé ante pé caminhei até á porta e olhei pelo buraco da fechadura. Do outro lado, o desalmado. Antes que eu pudesse esconder o dinheiro e pensar em alguma coisa, ele arrebentou a porta com um ponta pé e entrou casa á dentro. Tentei ainda gritar por socorro, mas meu grito foi calado com um murro certeiro que me atirou no chão. O teto começou a girar e minha visão foi escurecendo e aí então eu desmaiei. Apaguei mesmo. Só depois de muito tempo foi que retornei. Meu corpo todo dolorido. Olhei minha bolsa aberta no chão. Todo o dinheiro havia sumido. Fui até o espelho e só então pude ver meu rosto desfigurado. Gotas de sangue ainda escorriam por uma brecha que se abriu na minha testa e o sangue pingava na pia. O meu olho roxo inteiramente fechado. Ahh, amaldiçoei o dia em que o conheci. Amaldiçoei também todos os dias em que fui obrigada a viver com ele. Queria ver ele morto. Precisava colocar um ponto final naquela situação.Queria minha liberdade e não tinha outro jeito a não ser matar Jesuíno.
Olhei novamente no espelho o meu rosto desfigurado e comecei a imaginar um plano. Não aguentava mais. Tudo se repetiria. Ele tinha levado todo o meu dinheiro e voltaria mais tarde totalmente bêbado e me espancaria até a morte. Não me sujeitaria mais aquilo lá, não. Quando a noite chegou, não
conseguia dormir. O ferimento voltou a sangrar. Estava diante do espelho ajeitando o curativo quando ele retornou. Não disse nada. Foi direto para o quarto e se deitou calado. Como de costume, estava de porre. Esperei algum tempo até se firmar no sono e aí então fui até a cozinha, apanhei um facão bem amolado e voltei para o quarto onde ele dormia. Sim, o desgraçado dormia tranquilo como se nada tivesse acontecido. Sentei na beira da cama e contemplei seu corpo nu da cintura pra cima. Me certifiquei se ele estava mesmo dormindo. Então juntei toda minha força que ainda me restava e enterrei fundo o facão em seu peito. Jesuíno pro meu espanto, abriu os olhos e numa reação repetina, o maldito me agarrou pelo pescoço e começou a me estrangular. Seu corpo pesado desabou sobre o meu e fomos para os dois no chão do quarto. Seus olhos arregalados enquanto me estrangulava. Pensei que ia morrer. Mas logo, toda aquela força descomunal foi esmorecendo. Suas garras se desprenderam do meu pescoço e caíram pesadamente no chão como um fardo de farinha. Me arrastei pra bem longe dele e me pus de pé. Chutei várias vezes seu corpo, e como não se mexia, constatei que estivesse morto. Não me dando por satisfeita, peguei um garrafão de álcool e despejei por sobre o corpo do condenado e ateei fogo. A alma daquele demônio ainda vai arder por muito tempo nas profundezas do inferno!"

zona portuária de Manaus

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