sábado, 9 de abril de 2011

JESUÍNO MARABÁ - PARTE IV

UM CACHORRO VIVE MELHOR QUE UM HOMEM NAQUELA CIDADE

"Sem dinheiro e sem conhecer ninguém, passei os diabos em Manaus. Fome, humilhação e toda sorte de discriminação que alguém pode sofrer, eu sofri. Mas a esperança de encontrar Conceição ainda com vida, junto ao desejo de vingança era bo alimento que me dava alento nos dias mais difíceis. E foram tantos que quase cheguei a desistir. Mas dizem, veja o senhor, que a sorte não escolhe quem ela procura, e até um desgraçado como eu, teve o seu dia. Consegui um trabalho como estivador no cais do porto, o que me garantia moradia e alimentação. Mas o desgosto me fez adquirir o vício da bebida. A princípio, bebia com o intuito de esquecer o horror que tinha vivido naquela noite, e também pra não esquecer da minha vingança. Depois se tornou um vício mesmo. A chegada da noite era o que mais me dava medo. Pois com ela vinham os pesadelos e os delírios movidos quase sempre pelo excesso da bebida. A imagem de Jesuíno não me deixava em paz. Sua sombra estava em todos os lugares. Nos bares, nas esquinas, nos puteiros da cidade... Onde quer que eu fosse, tinha a impressão que a qualquer momento ficaríamos cara a cara, aí era matar ou morrer.
Passaram os dias, meses, anos e nada. Vencido pelo desespero e pela miséria da alma, estava decidido voltar para Rio do Sol. Aquilo ali não era vida que um ser humano merecesse. Agora eu só buscava um emprego decente e um pouco de respeito. Não encontrei ali. Um cachorro, seu Paulo, vive melhor que um homem naquela cidade. A cada dia eu morria um pouco por dentro, e junto, a esperança de encontrar minha irmã. Lutava em aceitar, mas a verdade é que havia desistido de tudo. Só pensava em voltar e recomeçar a minha vida. Mas o destino, olhe só, sempre reservando pra gente suas surpresas. Conceiçào estava viva. Fui encontrar ela certa noite caminhando a esmo como se fosse um fantasma, nos arredores do mercado municipal. Havia finalmente encontrado aquela que eu julgava morta. Na verdade, Conceição estava inteiramente morta por dentro. Nós dois estávamos mortos. Só nossas sombras teimosas vagavam sem rumo. Nossas almas, seu Paulo, se recusavam a deixar nossos corpos...

2 comentários:

  1. ótima narrativa.. triste vida desse cara! puta merda!

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  2. ESTE CONTO JÁ TEM UMA ESTRADA. ESCREVI EM 97.
    A REALIDADE DESSA GENTE É FODA MESMO.

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