sábado, 19 de março de 2011

A PERNA III - É DURO VIVER SEM OS MEMBROS COMPANHEIROS, SEJA QUAIS FOREM ELES.

Fez parar um taxi e eles entraram. A perna acomodou-se atrás com Madonna e M. seguiu na frente ao lado do motorista.
_Para onde? _Perguntou o motorista.
_Toca pra frente.
Madonna esfregava-se loucamente na perna da Perna, arrancando dela, gemidinhos de prazer. O motorista – um senhor de seus cinquenta e poucos anos, olhava assustado pelo retrovisor. Não aguentou por muito tempo, não. E virando-se para M. perguntou:
_Aquilo lá atrás, meu patrão, é uma prótese?
_Não senhor. É uma perna de verdade.
Ficou um tempo em silêncio e depois observou tristemente:
_Minha velha perdeu as pernas em um acidente de carro. As duas. Deve ser muito difícil viver sem os membros. Sejam quais forem eles.
M. não disse nada. Fez ele parar um instante numa loja de conveniências aberta e saltou para comprar uma bebidas. Depois voltou e entrou no carro. Tudo muito rápido.
_Falta muito pra chegar, gente boa? Perguntou a Perna lá atrás.
_Já estamos chegando. Tranquilizou M.
_E fist? cês curtem fist? Perguntou Madonna com uma voz arrastada e bêbada.
_Topamos tudo, não é companheiro? Quis saber a Perna.
_Sim, topamos tudo. Confirmou M.
_Éééé... é duro viver sem os membros, companheiros, sejam quais forem eles. Reforçou o motorista.
O taxi avançou na noite. Começou a chover fininho porque era dezembro. Os para-brisas ensaiavam uma dança macabra. Hipnotizadora. A avenida miseravelmente enfeitada de luzinhas natalinas ia ficando para trás. As pessoas em seus pequenos arranhaceus, aguardavam o nascimento do salvador, enquanto o mundo se desmembrava. M. refletiu um instante porque M. parecia ainda possuir um restinho de alma...

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