terça-feira, 15 de maio de 2012

FRAGMENTOS EM PRIMEIRA PESSOA OU CHAME A ISSO DO QUE QUISER

Chegou-me em mãos no último sábado – durante uma exposição de fanzines no evento da banda de rock, Antiga Roll – o livreto, FRAGMENTOS EM PRIMEIRA PESSOA OU CHAME A ISSO DO QUE QUISER, Coleção de rua, 16 páginas - Manaus, Amazonas, do autor Jeovane Pereira, o qual, na ocasião, tive o privilégio de conhecê-lo pessoalmente. O opúsculo é um mergulho ás reminiscências de infância de alguém em busca da essência da poesia. Um rosto a mais no vasto universo das ruas. Um anônimo. E á medida que este anônimo vai mergulhando no abismo de suas lembranças, imergimos com ele nos envolvendo com o encantamento de suas palavras. “(...) Se eu fosse relatar todas as lembranças da minha infância, passariam-se dias e mais dias e você não seria capaz de encher folhas e mais folhas de papel com sua escrita...” Nos fala este anônimo, personagem morador de rua, sujeito maltrapilho, barbudo, de natureza pacífica, e que ao dedilhar as cordas do seu violão, cria sons que acabam contagiando as profundezas de nosso mais profundo íntimo, criando leis que regem o nosso próprio universo. Jeovane tem a técnica e a leveza da escrita. Seus fragmentos são poéticos e de imagens fortes que ficam marcadas na mente, como a passagem em que o personagem relembra o cachorro Rex, muito querido pela família, mas que ao ser contaminado pela raiva teve que ser executado a tiros e pauladas, e em seguida, jogado nos entulhos nos arredores da cidade, aparecendo no dia seguinte, á porta da casa, ensanguentado e deformado, soltando grunhidos aterradores. (...) “No retorno das aulas era só alegria: o Rex saía correndo ao meu encontro, latia, pulava com as patas no meu tórax sujando o meu uniforme escolar, lambia meu rosto... Como me divertia quando os sapatos eram rasgados, as sandálias escondidas e as meias mastigadas como se fosse a melhor brincadeira do mundo. Infelizmente o cão teve um fim trágico. Foi contaminado pela raiva. Meu pai não se achou com coragem e pediu para que outras pessoas pusessem fim àquele drama. Fiquei sabendo depois: atiraram no Rex e o encheram de pauladas até concluir que ele estava morto. Levaram-no e jogaram-no num entulho nas proximidades da cidade. No dia seguinte, bem cedo, o Rex amanheceu na porta da cozinha de nossa casa soltando grunhidos aterradores, todo ensanguentado e deformado. Foi muito triste. Ficamos muito sentidos. Foi como se tivesse acontecido com alguém de nossa família. Nunca mais tivemos outro cachorro...” Mais que um relato de reminiscências, Fragmentos em Primeira Pessoa ou Chame a Isso do que quiser, é certamente um exercício Proustiano e fascinante que com certeza encantará o leitor e ficará impregnado na sua mente. Márcio Santana Manaus, 15.05.2012

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